quinta-feira, 31 de março de 2011

Eu confesso

Eu fico azeda. Eu fico azeda de saudade da minha mãe.

Eu estou feliz aqui. Mas, tem um pedacinho meu que não está. Eu sei que é pedir demais que tudo seja perfeito. Até porque, ninguém é. E seria egoísmo demais da minha parte esquecer dos outros só porque estou bem.

No meu mundo perfeito, minha mãe moraria perto de mim (ou eu perto dela), teria sua casa com jardim, pra cuidar das plantas e dos animais que ela adora (a casa ela já tem, pelo menos). Ela seria feliz. Tenho certeza. Ela não é muito exigente (acho que tenho a quem puxar).

No meu mundo perfeito, seria primavera o ano todo para que suas plantas sempre florescessem e suas artrites, artroses e outros problemas de saúde não reclamassem do frio.

No meu mundo perfeito, ela teria uma audição perfeita. E teria escolhido outro pai pra mim. (Ai os anos de análise que eu ainda nem fiz) Porque ela também merecia outro marido. Ou não. A gente é responsável por nossas escolhas, né?

No meu mundo perfeito, ela não sentiria dores. A rinite alérgica que ela adquiriu depois de anos respirando cabelo e produtos químicos da profissão não existiria.

No meu mundo perfeito, meu irmão faria parte, claro. Porque o outro filho tem que estar presente e ele também faz falta. Ele mora em SP.

No meu mundo perfeito, eu ganho o suficiente pra todo mundo, pra ela não precisar da mixaria que ela vai ganhar de aposentadoria, por nunca ter conseguido se programar, é verdade.

No meu mundo perfeito, todo dia ela ganha um presente. Porque, depois de mais de 50 anos de trabalho (contando com os sete irmãos que ela ajudou a criar) já foram suficientes.

No meu mundo perfeito, eu não teria que estar dando conselhos pra ela por MSN enquanto escrevo esse texto. Porque ela tem medo. Medo de meu pai acabar com mais uma tentativa dela de montar um negócio. E está cansada de sempre recomeçar.

No meu mundo perfeito, eu não tenho mágoa desse homem que só deveria amar a minha mãe como ela o ama. E que, por causa dele, o mundo dela não é perfeito.

No meu mundo perfeito, eu também seria uma filha perfeita. Estive do lado dela todos esses anos. Mas, agora estou aqui. Feliz. E é chato ser feliz quando a pessoa que você mais ama no mundo não está. Ainda arrisco a dizer que ela nunca foi plenamente.

No meu mundo perfeito, felicidade pode ser enviada pelo correio. Daria minha parte pra ela.

No meu mundo perfeito, saudade é uma coisa que dá e passa.

No meu mundo perfeito, a mãe sou eu e agora a protejo.

terça-feira, 29 de março de 2011

Primeiro salário(zinho) e outras coisas

Recebi meu salário(zinho), gente! Olha, que emoção!?!?!

Metade do salário(zinho), né? Já que comecei no dia 16. Sabe que eu nem fiquei assim, toda, toda besta? Fiquei não. Pra mim foi normal. Eu só não mostrei pra ninguém os pulinhos que eu dei depois, né? Porque eu sou phyna!

Aí, sabe o que acontece? Depois de três anos de uso, meu celular ZAZ! PLOFT! KAPUTT! Pois é. Detalhe: nem mexi nele, ele nem caiu, nem nada. Resolveu que o visor ia apagar e não ia funcionar mais. A verdade é que ele já estava dando sinais de aposentadoria eterna e eu que não estava dando bola, porque sou casquinha e não ia comprar uma coisa quando a outra ainda estava funcionando.

E acho que ele sabia que dia podia quebrar, hein? Isso foi armação dele.

Contudo, tenho um marido que me ama e quer ter uma executiva chique dentro de casa (Cof! Cof! Cof!) e que resolveu me dá um smartphone de presente. De Natal, segundo ele. Ou seja, passar o resto do ano sem presente, hein? Coisa mais fofa de Deus!

O salário(zinho) está na conta de marido. Óia, contar que eu fiz a maior confusão só pra abrir uma conta? Pois é... coisas de gente que deixa pra fazer tudo na última hora. Brasileira, eu? Oxe!

Até hoje não tinha conta em banco aqui. POR QUÊÊÊÊ!? Vocês irão perguntar que eu sei. Aí, como sou uma menina linda e fofa, respondo: eu tinha conta no Brasil. E dinheiro lá também, óbvio. Usei o restinho das economias que tinha lá durante o ano e na viagem agora em janeiro encerrei minha conta. Pra qualquer outra coisa por lá, uso a conta da minha mãe. Ela agradece.

Então, a partir de sei lá quando irei receber minha papelada da conta, serei uma moça bancarizada na Alemanha. E com uma merreca pra gastar guardar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

No salão de beleza

Olha, não dá certo, sabe? Você estuda alemão, pratica, se borra toda pra explicar uma ideia que teve no estágio e para quê? Para quê, me digam?

Para você achar que já sabe se comunicar, que as pessoas já te entendem e que você pode ir na cabeleireira, que já cortou seu cabelo outras vezes e não errou, mas que dessa vez, porque você acha que já se comunica relativamente bem, quer explicar um novo corte de cabelo pra ela, explica, ela faz que entende e no final...

FAZ EXATAMENTE O QUE VOCÊ NÃO QUERIA QUE ELA FIZESSE!

E ainda termina o corte dizendo: "Gostou? Do jeito como você pediu!"

Segurança demais dá nisso! Tá vendo? Vou quietar meu fiofó de novo no canto, que assim não dá!

A sorte é que cabelo cresce de novo. Imagina se fosse, tipo assim, um braço?

Dá licença que eu vou ali tomar um ar! ARRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR

sábado, 26 de março de 2011

Lamber envelopes

Daí que a pessoa cresce assistindo filme estrangeiro e vendo pessoas "normais" lambendo envelopes para lacrá-los quando queriam enviar cartas.

Daí que a pessoa cresceu e foi descobrindo que a utilidade dos envelopes foi diminuindo, servindo para guardar coisas. Porque as pessoas "normais" não escrevem mais cartas, mandam emails.

Os envelopes ficam guardados para documentos oficiais e empresariais. Tão lindo ver um com a logomarca de uma empresa, né? Melhor quando se tem um contrato dentro, claro.

Daí que a pessoa achava que as "normais" não tinham higiene e por isso ficavam lambendo envelopes. Até porque, ela, criança, não entendia como é que funcionava. "Saliva cola?", era um dos seus mistérios.

A pessoa não só cresceu como se mudou pra Alemanha, lugar aonde pessoas ainda enviam cartas. Pelo menos, com mais frequência do que ela estava habituada.

E a saliva de alemão cola... envelopes e selos. Dizem que alemães são porcos. Deve ser por isso, né? Se a pessoa ainda fosse criança, seria assim que ela ia pensar. Mas, ela não é mais, lembra-se disso.

Se alemães são porcos porque lambem envelopes, agora ela também é.

Porque as pessoas crescem e descobrem que saliva não cola (e que alemães não são porcos...). Ainda bem, né?

quinta-feira, 24 de março de 2011

A primavera em mim

É primavera desde o dia 21, mas a minha primavera começou mais cedo, muito tempo atrás num dia sem data pra lembrar, mas pra deixar a sensação gostosa que a primavera sempre trás.

A Line escreveu um texto e nele uma frase que me motivou a escrever esse aqui: "Ser feliz aqui é diferente de ser feliz no Brasil..." Ela está certíssima. Porque, vejam só vocês, aonde que euzinha, aos 29 anos, ficaria feliz por ter um estágio se estivesse morando no Brasil? Aonde? (Pausa Cultural. As expressões - sim, pode não ser uma pergunta, "aonde?" ou "aonde!" na Bahia podem dizer muitas coisas. Algumas delas: não é possível, de jeito nenhum, ou, o mais popular, porra nenhuma. Fim da Pausa Cultural).

Então, vejam só vocês de novo: eu estou feliz. Mesmo. De verdade. Volto pra casa com um sorriso na cara no rosto, pareço uma criança saltitante. E é simples. Pra mim é muito simples. Porque as minhas pequenas conquistas diárias são as mais importantes nesse momento. É conseguir executar uma atividade. É conquistar a confiança de um colega. É olhar sorrindo pro mesmo colega e dizer "não sei!" e ele sorrir de volta, explicando. É tanta coisa.

Esse estágio significa muito mais do que apenas uma ocupação diária e um salariozinhozinhozinho (dá pra ser menor?) na minha conta no final do mês. Significa que tudo que planejei, como imaginei que seria (com as dificuldades e os louros) está acontecendo. Dá uma leveza saber que estou conseguindo, que estou traçando meu caminho. Exatamente como eu pensei que seria.

Porque eu não cheguei aqui com grandes planos. Eu sabia que seria mais complicado arrumar um emprego, preferi começar com um estágio. E estou satisfeita com isso. Sabia que "recomeçar" significava também zerar uma vida e conquistar tudo de novo (ou não necessariamente tudo, né? O marido continua o mesmo. Rá!). Acho que quando a gente estipula objetivos alcançáveis, fica tudo mais fácil. Um dia de cada vez. Não tem sabedoria melhor. Quando parece que vai desandar, paro e respiro. Não dá pra me desesperar quando vejo tudo que já fiz. Aqui e lá. Lá e aqui. (Aquele texto só tem metade das coisas. A outra metade, eu quero esquecer mesmo. 2007 foi o pior ano da minha vida!)

E é fácil. Meu Deus, como é fácil estar feliz com coisinhas. Por respirar, por acordar motivada a sair de casa, por sair do estágio motivada a voltar pra casa, por realizar coisas, por ir no Bürgeramt e receber um sorriso da "horrorosa, azeda" que você achava que não tinha dormido bem e parte da sua apreensão era coisa dos preconceitos que se tem e você sorri e ela sorri de volta. Pronto. Simples. E se eu não sorrisse e se eu não quisesse voltar pra casa, alguma coisa estaria errada. Mas, seria comigo. E só. Os outros não são responsáveis por minha felicidade.

Eu sei que existem coisas mais complexas. Que poderia ser diferente. Eu poderia ter alguma ou mais dificuldade para aprender alemão, poderia não ter conseguido o visto, poderia estar numa outra cidade e ser olhada com preconceito, poderia estar em casa reclamando da má sorte. Mas, poxa, eu não passei por essas dificuldades. Eu tenho sido agraciada, vejam só vocês mais uma vez. Não posso deixar isso passar.

Por isso, a primavera está em mim. Se depender (e depende) de mim, será o ano todo.

Que esteja em vocês também!!!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Só pra contar mesmo

- É a primeira empresa que trabalho em que são oferecidas bebidas, além de água e café: suco de maçã, de pêssego, Bionade e Coca-cola normal e zero, tá? Dá pra vocês?
- E a máquina de café é da coleção Nespresso. Quando eu aprender a usar direito, todo dia um capuccino. Viu? Nem precisei ficar rica.
- As horas passam que eu nem sinto. Se eu não tivesse um estômago pra roncar, claro.
- Aos poucos, vou perdendo a timidez. Gente, eu juro pra vocês que eu sou tímida!
- Avisei ao chefe que precisaria sair mais cedo às quartas para continuar o curso de redação. Aí ele responde: "Claro! Você faz uma boa propaganda fazendo um curso de alemão."
- Tenho mais nada pra contar, não
- Ops, tenho sim! É primavera. Hoje fez sol e teve máxima de 15 graus. Nem senti. Só vi da minha janela. Rá! Tô me sentindo, né?

P.S. O marcador está "Emprego" não porque seja um, mas porque quero agrupar tudo numa categoria só. E como já tinha falado de busca de emprego/trabalho, fica tudo no mesmo pacote. Mas, ainda é um estágio e vai continuar sendo pelos próximos 6 meses, se Deus quiser!

terça-feira, 22 de março de 2011

Vermelho e branco

A pessoa aqui, quando volta do trabalho (ai, gente, como é bom escvever isso!), passa por um quiosque de currywurst que sempre teve vontade de conhecer (o wurst, não o quiosque, tá?).

Hoje, foi assim, um dia quente, ensolarado e bem-humorado. Aí, eu pensei: "Por que não comprar um hoje?" Dois, aliás. Com batata frita. Uma coisa bem gooorrrda! Pois é. Imaginem: uma "calabresa" bem gorda, frita e cheia de catchup e curry mais batatas fritas. Uma bomba calórica! Comida típida de Berlin (ou da Alemanha toda, vai saber, né?).

Parei e fiz o pedido. A mulher me faz uma pergunta e dá as costas para começar a preparar o prato.

- Vermelho e branco?
- Oi?
- Vermelho e branco?
- Oi?

(Suspiros meus e dela.)

- Catchup e maionese?
- Ahhhh! Sim, por favor.

Será que dá pra esse povo falar alemão direito comigo?

É igual gringo chegar no Brasil e o garçom perguntar se ele quer um "menorzinho". Pedofilia, assim, à luz do dia, não dá, né? =P

segunda-feira, 21 de março de 2011

O "chafé" alemão

(Essa postagem foi originalmente publicada no blog Brasil com Z.)

Eu nem poderia falar do “café da Alemanha”, porque eu não tenho a mínima idéia de como é o café em Munique, por exemplo. Estou esperando convites para saber, na verdade. ;) Além de ser suspeita pra falar, pois gosto muito de café. Gosto puro, com açúcar.

Quando cheguei na Alemanha aprendi a ser reticente na hora de aceitar café em casas de amigos ou conhecidos. Também aprendi a não criar muita expectativa quanto à qualidade… Alemão também gosta muito de café, assim como gosta de chá. Mas, alemão não faz café como brasileiro. Faz como se faz chá. Pelo menos, foi essa a conclusão que eu cheguei depois de já ter tomado tanto café nas casas alheias.

Se for a uma cafeteria e pedir um espresso, o sabor será forte e marcante, como deve ser. Mas, se estiver visitando um alemão, desde que ele não tenha nenhuma ligação com o Brasil ou países que fazem um melhor café, o café será chá de café, servido sem açúcar e com leite. Eu chamo o café caseiro alemão de “chafé”. Por quê, né?

E se um alemão vai até a minha casa, aviso logo: é brasileiro e forte.

Apesar do café ser fraco, muitas vezes o grão é brasileiro. Pois é. Na minha casa, só compro o grão torrado, que é moído na hora da Tchibo. Brasileiro, claro.

Não posso deixar de destacar o charme de alguns cafés daqui. Existem dos mais famosos, como Starbucks, aos de bairro e aqueles de ambiente alternativo, com móveis comprados em Flohmarkt (mercado das pulgas) e bolos caseiros. Cada um com sua vantagem. Mas, eu bem prefiro o alternativo.

Alemão também gosta muito de frequentar cafés. Fazem isso tanto para apreciar a bebida, quanto para encontrar amigos, ler um livro ou jornal, trabalhar, passar aquela horinha antes de algum compromisso, ou só relaxar.

Quando eu for chique e rica, passarei minhas tardes pagando para beber café e comer tortas deliciosas.

sábado, 19 de março de 2011

Os primeiros dias do estágio

- Meu chefe direto me lembra um amigo meu de Recife. É olhar pra ele e lembrar do amigo. Empatia instantânea.
- O ambiente de trabalho é ótimo e os colegas são pessoas legais. Eles são tão quietos que a gente nem vê a hora que entram ou que saem da empresa. Exceto quando a secretária chiquérrima passa de salto (po-toc, po-toc) no corredor.
- Eu chego às 09h e saio às 17h30. Com intervalo de almoço, claro. Mas, que não são as duas horas que estamos acostumados a ter no Brasil. Eu tenho que trabalhar oito horas por dia. Eu que decido quanto tempo preciso para o almoço. Só tenho que compensar, né?
- Eles são muito pacientes comigo e meu alemão. Até quando é que eu não sei. Mas, não vou esperar pra eles ficarem impacientes, né? Eu não sou tão besta assim.
- Participei de uma reunião só como ouvinte pra conhecer um pouco mais os projetos. Um monte de gente falando, sobre um monte de tema que você não conhece e que já estão caminhando há dias. Resultado? Não entendi porra nenhuma! Mas, estava lá, com minha cara linda, fazendo a egípcia. Sair correndo é que não ia, né?
- No primeiro dia, uma colega me chamou pra almoçar. No segundo, foi um colega. E ontem, saí com "os chefes", apesar de ter um sanduíche me esperando pra ser comido dentro da minha bolsa. Porque, né, estagiário continua sendo estagiário desde que o mundo é mundo.
- Meu mico da vez: queria pedir uma salada no almoço (porque chefe só almoça em restaurante caro?) e perguntei: é "die salat" ou "das salat"? Vira o vice-presidente de vendas e diz: "é der salat." O vice-presidente de vendas!!! Eu queria virar uma borboleta (pra não dizer coisa pior). Juro!
- Meu trabalho: estou na área de marketing estratégico. A empresa é pequena, tem 12 pessoas e um monte de investidores e parceiros que aparecem por lá de vez em quando e eu fico doida, tentando lembrar nome de todo mundo. Detalhe: não sei! Eu não consigo gravar nome alemão de primeira, só se for muito fácil, como são alguns. Tem uma Francisca, por exemplo. =D
- Mico deles da vez: "Ah, você fala espanhol, né? Vai poder conversar com 'o todo-poderoso-chefão', ele nasceu na Espanha.", "Eu não falo espanhol, no Brasil se fala português.", "Ahhhhh...."
- Estou satisfeita. Acho que foi a escolha certa. Estou só esperando a parte estressante começar, porque, claro, no início não se tem muita coisa pra fazer, você pode cometer erros pois está conhecendo a empresa ainda, etc etc etc... Mas, estou ansiosa até pra isso. Quero saber que posso até nessas circunstâncias.

Eu nunca disse que era uma pessoa normal. Ou disse? rsrs

quinta-feira, 17 de março de 2011

A parte mais difícil até aqui

Foi no Brasil. (antes de me baterem, leiam o texto todo, tá?)

Você acordar às 05h30 da manhã para chegar ao trabalho às 07h e ir para o ponto de ônibus rezando para que ele passe no horário e você não tenha outro atraso.
Foi você ter um trabalho "meia boca", porque você precisava do dinheiro para comer, ter aonde dormir e pagar transporte para a faculdade.
Morar num cafofo de menos de 30m² que tinha, como único conforto, a cama que você trouxe da casa dos seus pais. Sem pia na cozinha. No banheiro, um cano de água saindo da parede, ao invés de um chuveiro decente.
E mesmo assim ser feliz, porque a última coisa que você queria na vida era se enterrar na cidade de interior dos seus pais, aonde tantos já se enterraram. Esse seria só o primeiro passo.
Foi ter, no seu horário de almoço, um lugar pra ficar perambulando até o estresse passar, antes de voltar para o trabalho e não tentar matar os três gerentes que precisavam da funcionária aomesmotempocomtudojunto.
Foi encontrar conforto numa igreja, mesmo não sendo católica. Sentar sozinha no banco da igreja vazia e chorar, rezando por mudanças.
Sair do trabalho "meia boca", às 18h em direção à faculdade. Rezando mais uma vez para o transporte passar e para que ele não estivesse lotado. Ou que, se estivesse lotado, nenhum homem ficasse atrás de você.
Quando você não tinha que passar antes no supermercado e fazer compras para o seu café da manhã, sendo a única refeição decente do dia. Pão com queijo e café.
Chegar na faculdade às 19h30 para uma aula que deveria ter começado às 19h e ainda comer qualquer porcaria da cantina, que seria a única refeição da noite.
Ter que sair da sala de aula às 22h30 mesmo com a aula programada para acabar às 23h, porque o único ônibus que vai em direção ao seu cafofo, e ao de muitos outros, sai da faculdade nesse horário.
Se o professor faltasse e não avisasse à turma, sem pensar que quem trabalha não quer ficar de papo na faculdade planejando as próximas festas. Só queria estar na cama, relaxando.
Ou quando algum professor entrava bêbado na sala e você se perguntava que porra que você está fazendo ali.
Chegar em casa quase à meia noite e só ter vontade de dormir. Ou chorar no caminho de volta de cansaço, de agonia...
E quando a sexta se aproxima, lembrar que o final de semana está longe de começar, porque ainda tem aula no sábado pela manhã e o inglês que você inventou de continuar à tarde.
No domingo, descansar. Descansar? Arrumar a trouxa de roupa suja, fazer uma faxininha no cafofo e rezar para encontrar algum ônibus no domingo (ou sábado à tarde) que te leve à rodoviária para poder ir para a casa dos pais. Num trajeto de 30km feito em quase duas horas.
Foi decidir parar de chorar sozinha no banco da igreja vazia e tomar uma decisão. Porque você não queria mais trabalhar quase 10 horas por dia, sem receber hora extra, de vez em quando ainda ficar sem almoçar, dependendo da boa vontade da moça da copa para te comprar um hamburguer.
Voltar convicta para o trabalho "meia boca" que durou um ano e quatro meses, escrever uma carta de demissão e cumprir o aviso prévio com todos dizendo que você tinha feito uma loucura.
Foi aguentar o assédio do gerente. Aquele mesmo que te acusou de roubo e que, por você ter provado o contrário, teve que ficar com o rabinho entre as pernas.
Foi você ter entregado a carta de demissão nas mãos dele e vê-lo desesperado por não ter ninguém para colocar no lugar. O que te faz lembrar que nem doente você poderia ficar.
Ficar confiante de que algo melhor poderia acontecer na sua vida até o último momento. E, no último dia do seu aviso-prévio, conhecer o seu futuro chefe. 30 de abril de 2003.
Foi mofar em fila do SUS e ter que pagar R$140 numa consulta particular para fazer preventivo.
Decidir comprar uma moto por estar cansada de ser humilhada pelo serviço de transporte público da cidade.
Foi ter caído da moto num dia de chuva e carregar as cicatrizes até hoje, mas não ter se arrependido da compra. Pois acreditava ter sido a melhor decisão naquelas circunstâncias.
Foi ter levado seis anos para se formar na universidade estadual da sua cidade, quando deveria ter passado "só" cinco, por conta de duas longas greves de professores (e estudantes).
Mas, também foi bom lembrar das lágrimas do seu pai, aquele homem que não chora, quando te levou de carro para a universidade seis anos antes para você se matricular. E ver as mesmas lágrimas anos depois, no dia da sua formatura. Dessa vez, acompanhadas com as da sua mãe. (Pausa para as minhas agora)
Foi lembrar do momento em que você pegou o diploma e pensou "agora o mundo é meu".
Porque todas as enxaquecas, todos as madrugadas fazendo trabalho, todos os professores alcólatras ou surtados que passaram na sua vida (que não eram maioria, graças a Deus) não te influenciaram negativamente.
Fazer uma pós e concluí-la, mesmo com dificuldades financeiras.
Lembrar também da felicidade em assinar o primeiro contrato de consultoria, como reflexo do seu trabalho até ali.
Foi descobrir que pessoas não são 100% confiáveis. Que trabalhar com gente é perigoso e que você ainda vai levar muito mais rasteiras delas na vida. Porém, não mais das mesmas pessoas, porque você aprende a lição rápido.
Foi perceber que se a vida fosse mais fácil, você não seria como é hoje e não teria conquistado o que tem conquistado até aqui.
Foi ter tido coragem de enfrentar o sistema e quebrar tabus. De tornar-se quem você sempre quis ser, independente dos outros te acharem louca. E ainda acham.
Perceber que o Brasil foi o melhor lugar que você poderia estar nesses anos, pois só lá seria possível tudo isso.
Perceber também que foi isso que te possibilitou estar aonde está.
E ter orgulho.
Ter orgulho de si mesma.
Ter orgulho de vocês. Brasileiros que também enfrentaram o sistema e sua realidade particular (porque você sabe que entre essas linhas, poderiam ser escritas muitas outras) e não se deixaram corromper. E que hoje vivem suas vidas em qualquer parte do Brasil ou do mundo.

Para vocês, meus parabéns!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Revisando as metas de 2011

Nessa postagem, contei quais são as metas para 2011.

A Meta n. 1 não poderá ser cumprida. ;(

Eu me matriculei no curso numa VHS como queria, fazendo o nível C1.1 dois dias por semana. Além dele, consegui um curso de redação na mesma escola às quartas. Frequentei um mês de aulas e ainda teria mais um. O curso de redação continua até o fim de maio.

Tudo isso porque o curso é diurno e não terei mais tempo para frequentá-lo, uma vez que A META n. 2 FOI ALCANÇADA!!!

Isso mesmo! Arrumei um estágio!!! Estou muito feliz.

As duas últimas entrevistas deram resultado positivo e tive que escolher uma. Todas duas na minha área, o que não alteraria "a caminhada" do meu currículo. A empresa que escolhi tem mais a ver comigo, muito mais direcionada para o que quero conquistar no futuro. Além deles terem sido muito claros quando disseram que imaginam um futuro para mim na empresa. O que quer dizer que tenho chances de ser contratada ao fim do período de estágio. O contrato é de três meses, podendo ser renovado.

Mas, o que me deixou muito mais feliz foi o fato deles terem me contratado pelo meu currículo, por acreditarem que eu posso contribuir para o negócio e reconhecer que meu esforço para fazer um estágio agora é muito grande. Um dos entrevistadores (porque fiz duas entrevistas na mesma empresa) me disse que ficou admirado em saber que uma profissional como eu, que poderia ter, inclusive, sua própria empresa (aham!), está disposta a começar com um estágio, já que preciso, de alguma forma, começar. Os dois entrevistadores ficaram pensando em como poderíamos trabalhar juntos para que eu não me sentisse entediada na empresa, uma vez que as atividades que um estagiário faz não são aquelas das quais estava acostumada, né? E acho que eles encontraram uma solução, senão não seria contratada.

Eu fiquei impressionada em como me desenvolvi nas entrevistas, no que fui capaz de contar sobre minha vida profissional. Tive que detalhar todos os projetos em que já trabalhei no Brasil, por exemplo. Eu não fui com postura de "estagiária", fui como profissional (lembram da roupa de executiva?), que tem planos e sabe o que quer. E acho que essa imagem agradou.

Posso dizer que isso me fez um bem danado e vou me esforçar muito para atender as expectativas. As minhas, inclusive.

Agora, só mais uma coisa:
UHUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!

P.S. Essa postagem foi programada! Nesse momento, estou no meu primeiro dia de estágio. A empresa mandou o contrato na segunda "à tardinha" e queria que eu começasse logo. Até porque, disse que estaria disponível pra começar de imediato. Não estava fazendo nada mesmo, né? Já agradeço antecipadamente os comentários. Bjs!

terça-feira, 15 de março de 2011

Uma opção?

Tá, que no Brasil eu não via essas coisas. Até porque, o que tem na Bahia é petróleo e não farmácia (a química mesmo). Ou tem, eu sou cega e nunca vi ou li à respeito.

Eu tenho andado muito de metrô, né? E uma coisa que eu não consigo entender é para onde as pessoas ficam olhando enquanto esperam sua estação chegar (ou o metrô chegar à estação? Melhor assim). Porque fica todo mundo com cara de pastel, olhando pras paredes, com vergonha de um olhar pro outro. Os mais espertos andam com o livrinho a tiracolo. Eu, matuta, esqueço dessa opção.

Aí, a pessoa aqui fica procurando o que ler nas paredes do metrô. Tem de tudo um pouco: informações e medidas de segurança, propagandas de asilos, de escolas e oferta de trabalho.

Claro que pra virar um post aqui não pode ser qualquer oferta, né? É aquela procurando mulheres saudáveis entre 18 e 45 anos, que não fumem ou tenham outros vícios. Entendeu? Entendeu?

Aposto que não!

Berlin tem Bayer. E Bayer é? Não sabe? Corre lá na sua gaveta de remédios. Pega um remédio e procura a empresa que fez. Pfizer (humm, garanhão!)? Bayer? Então. Pegou? Não? Ah, vá! Quanta interrogação!

Eles procuram mulheres que queiram ser cobaias para novos medicamentos. Eu, matuta, acho isso o fim da picada. Porque, né, minha gente? Tem quem faça. Ou você acha que a empresa que vende produto "testado dermatologicamente" e que não usa animais nos testes faz como, hein? Eu nem quero imaginar quantas vezes um remédio precisa ser testado pra chegar ao mercado. Me-do.

Rata de laboratório, eu? Desesperei ainda não, viu? Essa eu passo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A arte de fazer entrevistas em alemão

Não, você não irá encontrar uma fórmula mágica. Não, eu não estou me achando a bala que matou JFK. Não, eu não sou perfeita. Não, eu não sei de tudo. Mas, sim, estou tentando.

Fiz duas entrevistas nos últimos dias. A primeira do ano (que não é a primeira que faço) foi chata, eu errei alemão pra caramba, gaguejei, fiquei com raiva de mim, mas as meninas que me entrevistaram me ajudaram, disseram que não tinha problema se eu errasse. Enfim, me senti à vontade num bate-papo e no final valeu.

A segunda foi mais profissional, até porque o ambiente era outro. Fui vestida de executiva. Uma coisa que vocês não veem e nunca verão, a não ser que vocês me chamem para uma entrevista ou seja contratada para essa empresa. ;) Como já tinha destravado na primeira, apesar de ter começado nervosa, essa fluiu melhor. Consegui me expressar melhor, me esforcei para ser entendida, mesmo que tenha trocado preposições, colocado o verbo aonde não devia, ou ter esquecido que existe declinação nessa língua ma-ra-vi-lho-sa que é o alemão (ironia mode on/off).

A impressão é a mesma de sempre. O povo olha meu currículo e fica se perguntando porque, cargas d'água, eu estou procurando um estágio. Aí eu tenho que explicar que eu sou uma pessoa sensata e sei reconhecer que meu alemão não é lindo a ponto de conquistar uma vaga de emprego. Mas, que isso é uma questão de tempo e quando tiver uma chance de praticar alemão todo dia num ambiente empresarial, vou ficar fera rapidinho. Sim, esse discurso já está decorado.

Independente dos resultados, devo dizer que saí das duas entrevistas muito melhor do que quando entrei. No dia anterior ou horas antes, fico sempre nervosa e marido fica na expectativa de poder me dar uns tapas na cara (oi?) por histeria. Graças a Deus, não chega a esse ponto. Rá! Porém, quando a entrevista começa e o entrevistador(a) entende minhas necessidades, elogia o alemão só pra me fazer sentir à vontade e faz perguntas inteligentes, sem duvidar da minha experiência, minha auto-estima vai lá pra cima.

Eu saio da empresa feliz. Porque eu sei que eu posso. Porque eu tive a chance de tentar. E, se não for dessa vez, será na próxima. Ou na seguinte. Ou um pouquinho mais adiante.

Só não posso garantir que vou continuar assim depois de já ter feito 645487 entrevistas, né? Aí já é querer demais da pobre coitada aqui.

P.S. Já deu de post sobre emprego/trabalho/estágio, né? Né.

sábado, 12 de março de 2011

Papel de carta

Psiu, você aí, confessa pra mim se você já não colecionou uma vez na sua vida papel de carta. Se for leitor (homem, daann), já conheceu alguma menina na sua época de colégio com o mesmo vício?

Quem já fez isso, levanta a mão! o/

Pois é. Aí a moça aqui saiu pra passear com uma brasileira que ela encontrou através do blog. Quer dizer, foi a leitora que achou a escritora (cof, cof, to me sentindo, viu?). A brasileira, que se chama Alessandra (oi, Alê!), queria comprar um presente pra professora do curso de alemão. Porque ela é daquelas que puxa o saco reconhece, sabe? Aí entramos numa livraria. Aí vimos uns caderninhos lindos de anotações. Aí eu vi. Meninos, eu vi!

Não só papéis de carta, mas a coleção inteira. O papel, o envelope e o selinho pra lacrar. Gente, queria comprar! Mas, Deus ainda não me deu um salário pra gastar com essas coisinhas, sabe? Do dinheiro de marido, fico meio assim... Tá, podem me chamar de orgulhosa, eu deixo.

Vi também post it lindos, coloridos, estampados e de diversos tamanhos. Meus olhinhos brilharam quase tanto quanto com os papéis de carta. De novo, preferi deixar na livraria.

Agora a minha confissão: eu sei aonde fica a livraria, eu sei quais foram os produtos. Quando eu tiver um salário ou engolir meu orgulho, vou lá gastar, tá? Prometo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fui lá na agência de emprego, né?

Atenção: esse post é de utilidade pública para o pessoal que mora, mas não trabalha aqui na Alemanha.

Lembram desse post aqui? Então, precisei ir duas vezes à agência porque na primeira esqueci que tinha que levar a "confirmação de inscrição on line". Eu fiquei me perguntando pra que, meu zeus, ia precisar disso se era só digitar meu nome no sistema e ver que eu já estava inscrita. Mais papel... Aí, como eu já cheguei quase na hora de fechar e tinha outras coisas para fazer, voltei só essa semana. Levei marido junto, porque é sempre bom ter alguém que entenda mais que você nessas horas de lidar com servidor público, né? Melhor prevenir.

Foi tudo tranquilo, eles pegaram meus documentos, acrescentaram algumas informações no sistema e me deram informações interessantes que servem pra quem está sem trabalhar aqui na Alemanha:

1. Você (eu) não pode se cadastrar como "Arbeitsuchend" (o que procura) se nunca trabalhou na Alemanha. A minha inscrição foi mudada para "Arbeitlos" (o que está sem). Eca! Não sou fã dessa palavra. Mas, tudo bem, vida que segue. Por eu nunca ter trabalhado ainda no país, não recebo ajuda social alguma.

2. Em compensação, todo mundo pode se cadastrar como "Arbeitlos", mesmo que não queira/possa/consiga trabalhar na Alemanha. E, conselho meu, deve se inscrever. Porque você (eu) passa a fazer parte do sistema de aposentadoria do país. Se ainda não tem um registro lá, passa a ter, mesmo sem contribuir. E esse período entra na conta também, uma vez que você (eu) só não está pagando porque está desempregado, né? Pensa, pensa...

A aposentadoria não tem nada a ver com o seguro saúde de marido, aonde também estou incluída. Minha aposentadoria é um caso a parte. É a contagem de anos que tenho que trabalhar pra me aposentar, por exemplo.

Mesmo que algum brasileiro já tenha me dito isso, confesso que não registrei e a informação foi novidade pra mim. E, se não estou enganada, a previdência alemã tem parceria com a brasileira e os "tempos" valem para os dois países. Isso quer dizer que, se você trabalhou no Brasil de carteira assinada ou como autônomo contribuinte, esses anos trabalhados entram na conta na Alemanha. Eu vi isso em algum lugar, mas agora estou com preguiça de procurar pra por o link aqui. Dá licença pra preguiça? Obrigada!

Agora eles irão agendar uma "consultoria" pra mim, para me dizer o que preciso fazer para arrumar um trabalho, quais minhas responsabilidade e deveres etc. etc. etc. O que me dará direitos também, claro.

Viram? A Eve aqui também é informação.
 
P.S. que não é P.S.
Aos leitores do Japão e de regiões atingidas ou que podem ser atingidas pelo Terremoto/Tsunami, meu sincero abraço!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Voltando ao cinema

No Brasil, adorava cinema, ia sozinha, com marido, com amigos, sozinha de novo... Lia muitas resenhas de filmes, sabia os novos lançamentos, as indicações para premiações, enfim, uma cinéfila.

Aí cheguei na Alemanha sem falar alemão. Assistia TV por obrigação para me acostumar ao som da língua. Comecei assistindo filmes legendados, comprei DVDs para repertir as cenas vezes e vezes e morria de saudades do cinema.

Quase um ano depois tive coragem de gastar dinheiro para ir a um. Aliás, marido gastou. (Porque, né, uma pobre estudante de alemão desempregada não tem dinheiro. =P) Foi no ano passado, quando os enteados chegaram, eles queriam assistir Harry Potter. Pois é. Eu acho que dessa saga, só assisti o primeiro e o segundo, porque já passaram na televisão no Brasil. Aí, a primeira vez que vou ao cinema é pra assistir a primeira parte do último? Vai entender, né?

Eu não entendi muito do filme. Não que não entendesse as falas, eu não estava entendendo era a história mesmo. Pular do segundo para o último é pedir demais da minha cabeça.

Esse ano fui novamente, porque, adivinhem? No meu aniversário, que foi em novembro, ganhei 6 entradas de presente para dois cinemas legais que tem aqui. E, opa, preciso aproveitar! Semana passada fomos assistir True Grit dos irmãos Coen. Filme ótimo, com cenas impagáveis. Quem assistiu e rio na cena do indiozinho vai para o inferno como eu! hahahahahaha

Cinema perfeito. Poltronas maravilhosas. Som limpo e na altura certa. Imagem de alta definição. Um luxo! O único problema é que alemão gosta de filme dublado. Eu gosto de legendado. De ouvir o som original. Mas, aí, já é querer demais. Em Roma, coma pizza! Ops, errei! Ahhh, vocês entenderam.

Próximos da lista: The King's Speech e Black Swan.

Acho que estou caminhando para a normalidade, hein?

P.S. Eu sei! Tem cinemas que passam os filmes originais, alguns com e outros sem legenda em alemão. Mas, marido é alemão!! Quando eu quiser ir sozinha, escolho a original, tá? Quer dizer, quando ouvir em inglês e ler a legenda em alemão não for mais uma tortura... hehehehehe

quarta-feira, 9 de março de 2011

Constatação dos 29 (pensando com meus botões)

- Meu Deus! Tenho pés de galinha!
- Jesus! Minhas mãos já têm manchas de sol!
- José, Maria e os apóstolos todos! Os meus _ _ _ _ _ estão caindo!
- O que eu faço pra diminuir esses cabelos brancos?
- Preciso entrar na academia urgente! (até a vontade passar)
- Oi? Esse é o ano do 30?
- Hein? E essa celulite aqui, é nova?
- Ai meus sais! Estou gorda!
- Regime, regime, regime!
- Eu quero a minha mãe!!!!!!

terça-feira, 8 de março de 2011

Arrumando o guarda-roupa

Os alemães podem ser reclamões e ríspidos, às vezes. Mas, também podem ter um coração bem grandão.

Quando eu cheguei na Alemanha tinha pouca roupa de frio. Ou nenhuma, levando em conta que roupas do frio do nordeste brasileiro não se encaixam no frio alemão.

Marido chegou duas semanas antes de mim. E como algumas pessoas sabiam que eu estava a caminho, o que elas fizeram? Entraram em contato com marido e perguntaram o que podiam fazer por mim. Ele respondeu que poderiam me arrumar roupas de frio, pois eu não tinha nenhuma.

Quando eu cheguei na casa do meu cunhado, pois até então não tínhamos o nosso apartamento, havia duas sacolas de roupa me esperando. Uma de uma mulher que nunca me viu na vida, mas que era amiga de cunhado e tinha algumas peças de roupas disponíveis. A outra de uma amiga que já me conhecia de outras visitas, inclusive dela no Brasil.

Depois, visitei uma familia amiga de longa data de marido na mesma semana em que chegamos. A esposa e duas jovens filhas. A mulher tinha acabado de chegar do centro da cidade, fazia muito frio (lembrem-se: cheguei aqui em janeiro do ano passado, temperaturas tão negativas quanto as desse ano) e ainda vestia um casaco pesado. Ela perguntou se eu já tinha um, eu disse que tinha acabado de ganhar. Ela perguntou se eu tinha gostado daquele que ela estava usando, eu disse que sim. Ela despiu o casaco, pediu que eu experimentasse e me deu. Assim, simples.

Praticamente, cada visita daquela época me rendia roupas novas. Até uma certa visita, num certo verão, num certo dorf... ;)
Cheguei assim!
Fiquei assim!
Daí, resolvi que estava na hora de fazer a arrumação sazonal do meu guarda-roupa. Sempre fazia isso no Brasil, chegava a esvaziar o armário, doava tudo e dias depois, tinha o armário cheio novamente. Porque, na minha família, com as mulheres quase todas de mesma estatura e corpo - eu visto o mesmo número da minha mãe, por exemplo, mas ela é mais baixa - sempre fizemos trocas. E, por ser mais nova que as tias, sempre herdei roupas, como as calças da M.Officer de uma delas, que eu nunca teria condições de comprar, né? Porque eu sou besta, mas também sou esperta.

O resultado foram SETE sacolas grandes de roupas minhas e de marido, porque ele também ganhou algumas. Três foram para doação pra Cruz Vermelha, três vão para a ONG aonde faço "hora extra" e uma para venda numa loja de Second Hand.

Posso dizer: depois da limpeza, senti meu quarto com outra atmosfera. E com espaço para novas doações. Quem dá mais? =P

segunda-feira, 7 de março de 2011

Atenção, brasileiros!

Se nos próximos dias houver uma overdose de bandas de forró eletrônico, calypso e até esse negócio novo aí chamado de sertanejo universitário tocando lambada a culpa toda é da J. Lo. Isso mesmo que vocês leram: lam-ba-da!

Porque estava eu lá, no meu dia graxeira, ouvindo rádio pra não me lembrar que tinha uma trouxa de roupa pra passar e aí... 



New generation??? Isso é mais velho que eu!

Agora, a versão original* do BRASIL-SIL-SIL-SIL não sai da minha cabeça!

"Chorando se foi quem um dia só me fez choraaaarr...."

HELP!!!

Parece, mas eu não kibei da Thaty. =D

*Valeu "anônimo" pela informação. ;)

sábado, 5 de março de 2011

Esta linha encontra-se ocupada. Tu, tu, tu, tu...

Se alemão tivesse que ligar para um número toda vez que quisesse fazer uma reclamação, seria essa a mensagem que escutaria 100% das vezes, porque sempre teria um outro alemão na linha.

Alemão adora reclamar e sem motivos, principalmente (do ponto de vista de uma brasileira, claro). Se faz uma fila de 10 carros, ele já chama de engarrafamento e começa a ficar estressado. Se o trem atrasa 2 minutos, ele começa a olhar pro relógio e procurar o funcionário mais próximo pra reclamar do atraso. Se você fica na frente dele impatando sua passagem, ele vai reclamar. Se a economia está boa, ele vai reclamar...

É da natureza do alemão reclamar. Não sei quando esse hobby começou, mas sei que continua firme e forte até hoje. Esse é o lado chato dos alemães. Pra quem veio de um país com alguns problemas como eu, ouvir alemão reclamando é até ofensa.

Veja bem: nas últimas semanas, a Bolsa de Valores de Frankfurt "comprou" a Bolsa de Valores de NY. A Alemanha custeia 30% da União Européia (to na dúvida da % correta agora, só sei que é muito). Os outros % são divididos entre mais de 20 países, liderados pela França. O taxa de desemprego é a mais baixa em 19 anos... Mas o ministro lá plagiou o trabalho de doutorado dele e a mídia caiu em cima, até ele renunciar.

Aí eu tenho que ficar ouvindo, inclusive de marido, que está "tudo" ruim. Pode um negócio desses? Não pode.

Contudo, quem garante que não é essa insatisfação que impulsiona o país pra frente, uma vez que estão buscando sempre melhorar? O povo não larga o pé dos políticos por conta disso. Detalhe.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Um pouquinho (mais) de exposição

Como nunca mais tinha postado fotos e fiquei devendo algumas da Berlinale e do meu encontro com a Ana. Aí vão algumas fotos.
Eu sou uma pessoa normal, tá? (Brasil)
Maridos lindos, não? Abafa!
Cineminha básico!
Tapete vermelho da Berlinale. Só o tapete...
E pronto! Acabou a festa!

quinta-feira, 3 de março de 2011

D. Eve e seus dois maridos

Marido morou no Brasil e isso não é novidade pra vocês, ou é? Ele chegou lá em 94, através de uma organização de ação internacional para trabalhar no sertão baiano.

O nome de marido não é um nome de fácil compreensão e pronúncia para os brasileiros. Imagina, então, no sertão baiano, com sertanejos semi-analfabetos.

Para melhorar a comunicação, ele criou um nome brasileiro e esse ficou sendo o nome (apelido) dele no Brasil todo esse tempo: Paulo. Eu o conheci Paulo e por Paulo permanecerei chamando-o até que a morte nos separe, ou não. Aí começa minha vida dupla.

Para os brasileiros, eu o apresento como Paulo. Para os alemães e outros estrangeiros, com o nome alemão. Ai numa mesa com muitas pessoas, conversando ora com um alemão, ora com um brasileiro, fica parecendo que eu tenho dois maridos. Uma confusão só!

Uma vez, um alemão parou a conversa e perguntou: "Afinal, quem é Paulo?"

Tem que explicar, né?

quarta-feira, 2 de março de 2011

A rispidez alemã

Muita gente fala do jeito ríspido alemão. Eu acredito que tem algumas razões pra isso. Primeiro é o fato da língua. Alemão tem pronúncias diferentes, muitos fonemas são formados na garganta e parecem, de vez em quando, que estão rosnando quando falam. Juro pra vocês.

Outra coisa é o jeito direto que eles têm. Alemão funciona muito como cavalo em desfile de 7 de setembro, sabe? Andando e... bom, vocês sabem. Eles não se importam muito em como você vai se sentir com o que eles vão falar, porque, na maioria das vezes, não é pessoal. A gente é que leva muito pra esse lado. Simplesmente, aquela horrosa, branquela azeda que teve uma noite péssima e descontou todo o seu mau humor em você, pobre coitado que só queria uma informação. Nessas horas, prenda a respiração, conte até três, olhe pra ela e sorria. Porque você teve uma noite melhor que a dela. Acho que esse é o pior castigo, hein?

Eu nunca me importei muito com esse jeito. Eu até prefiro. Assim, ninguém usa máscaras e a vida segue, né? E quando fazem isso comigo, tenham certeza, devolvo com o meu melhor sorriso. Claro, até o momento que queiram confusão, aí, vou ficar com raiva por não ter alemão suficiente para responder. Deixa só eu ficar fluente, deixa.

Mas, toda essa introdução só pra dizer que estava eu, linda, sorridente e educada na livraria para comprar o livro do curso. Não tinha. Cheguei até a atendente e perguntei se eu podia encomendar. Ela disse que ia procurar no sistema.

Eu não sei o que foi, se eu esqueci que tinha perguntado, ou qual tinha sido a resposta, só sei que eu perguntei novamente, e a doce atendente, respondeu com o melhor jeito alemão:

- EU JÁ DISSE QUE VOCÊ PODE ENCOMENDAR!
- Ok, obrigada. Posso recolher-me à minha insignificância agora ou você ainda precisa de mim pra limpar o chão ou alguma coisa parecida?

Mentira. Dei uma de João sem braço, fingi que não foi comigo e fiz o pedido.

terça-feira, 1 de março de 2011

Dos preconceitos

Eu recebo regularmente e-mails de pessoas que estão vindo pra Alemanha ou têm o sonho de vir pra cá, eles me perguntam sobre visto, agradecem o fato de compartilhar com eles minha experiência e dividem comigo seus sonhos e angústias.

Tento dar a atenção que eles precisam, apóio, informo, sou sincera. Né, Glenda?

Mas, alguns desses emails não vêm só carregados de sonhos e expectativas. Vêm cheios de preconceitos, do tipo: "tenho medo de ser maltratada na Alemanha, de algum alemão gritar comigo", ou "eles não gostam de gente do terceiro mundo", ou "eles são frios e eu não vou me adaptar." (Se alguém se leu nessas frases, NÃO foi mera coincidência.) Algumas dessas mesmas pessoas dizem adorar a Alemanha, serem apaixonados por um alemão/ uma alemã, têm contato com outros, dizem que são bem tratados por esses alemães que conhecem e colocam todo os outros no mesmo saco de preconceitos.

Vou carregar no meu sotaque baiano agora, tá?

Rapá, na moral, se é pra vir pensando assim, fica aí, de boa.

A questão aqui não é se você vai ter chance de trabalhar no país. Se você será visto como mais um estrangeiro. Ou se os alemães são frios ou não.

A questão é: você quer mesmo vir morar aqui? Se quer, meu povo, abra a cabeça. Se vier cheio de preconceitos, não vai dar certo.

Eu também tive meus preconceitos, minhas angústias. Eu achava que eu ia ter problemas mais graves aqui, que seria tachada, isolada, excluída, whatever. Mas, quando eu decidi vir pra cá (e foi uma decisão minha! Marido não colocou uma arma na minha cabeça e disse "Bora, porra!") eu também decidi que ia me abrir às experiências, que ia ver as coisas pelo lado bom.

*Porque se eu quisesse ser maltratada, lidar com pessoas mal educadas, ficava no Brasil. Lá, pelo menos, falo português.

Tirando o fato dos alemães serem diretos e, algumas vezes, ríspidos na hora de falar (assunto abordado em um próximo post), NUNCA fui maltratada aqui ou me senti constrangida por ser estrangeira. Porque também nunca me comportei como vítima.

A minha adaptação aqui é mais fácil por ter marido alemão? É. É mais fácil por morar numa cidade com muitos estrangeiros? É. Mas, também é mais fácil porque eu QUERO que seja mais fácil.

Por exemplo: quando alguém ameaça me dizer que não será fácil arrumar trabalho (ouvi do meu próprio cunhado), eu respondo logo: "Meu caro, meu currículo é melhor do que o de muitos alemães da minha idade." Se vou demorar de arrumar trabalho, o mérito ou a falta de é meu. Sou eu que não falo alemão fluente ainda. Sabe por que eu sei disso? Porque eles me chamam para as entrevistas! Se não quisessem trabalhar com estrangeiros, não me chamariam.

Existem várias possibilidades. Porém, você só saberá que a sua escolha dará certo se tentar. E pra tentar, tem que vir pra cá! Se não, volte algumas linhas e leia as frases em negrito.

Caso não dê certo, o Brasil continua onde sempre esteve nos últimos 510 anos.

*Nota: A Line me alertou nos comentários que estava implícito nesse parágrafo que eu queria dizer que só tem gente mal educada no Brasil. Na verdade, quis dizer que entre ser maltratada num país que não domino a língua, prefiro que isso ocorra aonde domino, porque gente mal educada tem em todo lugar. Foi mais em relação a dominar a língua, do que cometer o mesmo erro que critico em classificar 100% dos brasileiros como mal educados. Desculpem se deu pra interpretar errado. Obrigada, Line.