quinta-feira, 30 de junho de 2011

FAQ - 20. Você já sofreu discriminação?

Vou contar algumas historinhas para vocês.

Eu sou do interior da Bahia e estudei em escola particular, paga com muito custo pelos meus pais, em Feira de Santana (falo mermo). Na minha turma ainda tinham mais algumas outras meninas da minha cidade. Éramos 4. Por meus pais não terem muito dinheiro, a escola, apesar de particular, não era A melhor. Nós éramos chamadas de "As Internacionais", por sermos do interior. E não era uma brincadeira saudável. Não éramos chamadas para os programas da turma, porque morávamos longe e, na cabeça dos colegas, não podíamos participar, por exemplo. No final, fomos as únicas a passarem no vestibular (e em universidade pública) sem fazer cursinho antes.

Uma vez, fui fazer uma pesquisa qualitativa e etnográfica (antropólogos e sociólogos de plantão, óia eu aqui, hein?) em Porto Alegre, depois de já ter feito a mesma pesquisa em Recife e no Rio. Eu ouvi do recepcionista do hotel em que fiquei: "Por que não contrataram alguém daqui pra fazer esse trabalho? Por que tinha que ser uma nordestina?". E não, ele não estava tentando ser simpático.

Uma vez, fazendo também uma pesquisa qualitativa em algumas cidades do nordeste (Maceió, Aracaju, Recife e Salvador) para um pessoal de São Paulo, eles tentaram elogiar o meu trabalho assim: "Nem parece que é baiana, seu trabalho é tão bom. Ah é, bem que você disse que nasceu no Paraná!"

Procurando emprego em multinacionais na Bahia: nenhum gerente era do estado.

Tirando o fato de não ser negra (ah vá, o mundo É racista), tenho quase o "combo" completo da discriminação no Brasil: pobre, do interior (o que pode ser igual a morar numa favela, depende dos olhos de quem vê) e nordestina.

Preciso responder à pergunta?

Aqui na Alemanha, nunca me senti discriminada até o dia que tive a abertura da minha conta bancária negada por sabe se lá qual motivo. Tirando isso, na empresa, o que percebo é que dois colegas nem se esforçam pra conversar comigo porque, na cabeça deles, meu alemão não é suficiente. O fato deles serem metidos e riquinhos (leiam filhinhos de papai engomadinhos - nem fui "racista" agora, nem) pesa nesse comportamento.

Você vai encontrar alguns alemães assim por aqui também. Eles querem que, se você mora na Alemanha, saiba falar alemão. Ponto. No dia a dia, no contato direto com as pessoas, essa é a única "exigência" que sinto da parte deles. Não é porque sou brasileira, "chocolate" ou "pobre". É porque não falo alemão como eles acham que eu deveria falar.

Eu entendo e não considero, tanto assim, discriminação. Porque eu conheci casos de pessoas, inclusive brasileiros, que já estão aqui há 20 anos e não falam quase nada de alemão. Pra mim, também é inadmissível. Por isso mesmo, me esforço pra melhorar todo dia um pouquinho mais.

Eu já cheguei aqui "vacinada". Não é o fato de ser discriminada por ser "estrangeira" que vou me deixar abalar. Eu já me sentia assim no meu próprio país, falando a mesma língua, só com sotaque diferente. Porque eu estranharia agora, né mesmo?

Assim como passei no vestibular, trabalhei no sul e para pessoas do sul, vou viver aqui e não vou permitir que a opinião de pessoas de cabeça pequena me abale.

Azar deles, não meu.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pecados da adolescência

Eu não fui uma adolescente rebelde (Aham, pergunta a minha mãe, tá?), mas eu confesso que tive uma fase roqueira. Verdade. Acho que todo mundo tem uma fase assim. Me aponhem, meu povo e digam que sim!

E qual foi minha banda escolhida para essa época? Guns N'Roses e o gato do Axl. Ok, pra mim, naquela época, ele era gato, tá? Pronto, falei!

Quando estava com raiva de alguma coisa ou triste, entrava em casa, ligava o som no volume máximo e berrava as músicas deles. Depois de ouvir o CD todo, estava sem voz e tinha gasto toda a minha descarga emocional de adolescente. Acho que era o máximo da minha rebeldia. ;)

Aí, dia desses, "zapeando" pela net, encontrei um vídeo de dois caras tocando Welcome to the jungle em Cellos. Meu povo, que é isso? Rock com Cello? Pirei, né? E voltei uns 15 anos no passado. (Ai, como eu me senti velha agora, putz grila!)


Pra quem foi comportado na adolescência e não conhece, aqui vai a versão original (ao vivo):


Não, minha música preferida não era essa, nem November Rain, nem Patience. Era ou ainda é essa aqui (que nem é deles de verdade). Velha, já nasci assim.(Ou nunca me livrei da vida passada...rsrs)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Das coisas espontâneas

Três episódios:

1.
Dentro do metrô, uma senhora chega com uma sacola de compras e uma embalagem de morangos logo em cima. Ela lia jornal distraidamente. A sacola abriu e ia derramar todo o conteúdo no chão. Um rapaz em sua frente abaixou e arrumou tudo de volta na sacola, fechou e continuou sua leitura. Depois que a distraída mulher percebeu e agradeceu com um sorriso.

2.
Saída do metrô para a minha casa. Uma senhora de bengala tenta subir as escadas com seu carrinho de compras. Com dificuldades, tenta um degrau de cada vez. Uma mulher desconhecida, sem perguntar, passa e pega o carrinho de compras. Sobe as escadas com ele. Lá de cima, enquanto a mulher terminava de subir com sua bengala, diz: "Pronto, agora eu espero a senhora aqui de cima." Acho que a velhinha ganhou menos algumas dores nas costas nesse dia.

3.
Tinha chovido, a escadaria da estação em que saio em direção ao trabalho estava escorregadia. Não tem elevador pra as mães descerem com os carrinhos de bebê nessa saída. Uma mãe vinha segurando o carrinho com a criança dentro, e no último degrau da escada que ela não viu, torceu o pé e ia cair com criança e tudo. Uma mulher e eu a seguramos pra que ela não caísse. Assim, no reflexo. Estávamos ao lado dela na hora. Ela, tão concentrada na criança, não nos viu. Seguimos nosso caminho. Quando se acalmar, se dará conta de que sentiu pessoas tocando-a. Eram os anjos, querida, os anjos.

Porque a vida também acontece no metrô.

domingo, 26 de junho de 2011

Nada mais me surpreende

Você está lá, andando na rua, aproveitando o verão e de repente, não mais que de repente...

Você vê um rato! E não é um rato qualquer.

É um rato gigante!

Aí você olha mais atentamente e... oh wait!

O rato está de coleira!

Aí você segue a coleira e...

Encontra um homem.

Um homem que tem como animal de estimação um rato gigante.
Tinha uma grade no meio do caminho. Dá pra ver que eu não minto, né?

Por que, né? Como já diz o sábio ditado, gosto é igual a c*...

Aviso básico: não estou conseguindo comentar em blogs do blogger. Desculpa aí, tá? Foi sem querer querendo.

sábado, 25 de junho de 2011

Eu te conheço?

Desde que eu cheguei aqui, adquiri um hábito curioso, digamos assim. Talvez, tenha sido uma forma de me sentir acolhida, confortável e "em casa".

Andando nas ruas, visitando lugares, frequentando restaurantes, aprendi a procurar similaridades. Sim, similaridades. Tenho gostado muito mais do português depois que comecei a aprender alemão... (o que não significa que virei expert em gramática e redação. =P)

Eu vejo uma pessoa e ela me lembra alguém. E fico naquela, tentando lembrar quem aquela pessoa me parece. Uma vez, tive que olhar duas ou três vezes para ter certeza que aquela pessoa totalmente estranha para mim, não era o meu amigo de faculdade.

Meu chefe, por exemplo, me lembra um amigo de Recife. Quando vejo algumas asiáticas, lembro sempre da minha orientadora da monografia, que era coreana. Algumas amigas também, que são baixinhas e miúdas são "vistas" nas asiáticas. Fora as pessoas comuns... Já pensou que o padeiro que me atendia lá no Brasil, é o mesmo que me atende aqui? =O

Eu sei que uma das características humanas é a nossa programação para identificar rostos. Não é à toa que a gente enxerga santo até em torrada, né?

Só que no meu caso, tem virado obsessão. Eu já falo pra marido: "olha, aquela pessoa ali me lembra Fulano, e aquele ali me lembra Beltrano."

Acontece com vocês também? Ou o meu caso é pra psicólogo?

Tem cura, doutora Lorna?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

É São João, meu povo!

Só lá no Brasil! Buaaaaaaaaaaa!

Olha, eu escrevi um post para o Brasil com Z sobre o que eu sinto falta do Brasil. Vão lá pra ler! Resumindo, eu disse que sinto falta dos passarinhos coloridos do Brasil, porque aqui só tem corvo, corvo, cor-vo! (além de pardal, essa praga!)

Só que eu esqueci de que época do ano nós estamos. E eu posso não fazer parte do clichê brasileiro, mas bem faço parte - em parte - do clichê nordestino!

Eu quero São João! Eu quero ficar ao redor da fogueira com a família! Eu quero comer milho assado na fogueira! Eu quero ver as crianças da família soltando fogos! Passar o dia comendo amendoim cozido e tomando licor de genipapo! Eu quero fingir que danço forró! Eu quero passear nas ruas da cidade de interior dos meus pais e voltar pra casa de olhos ardendo e com a roupa cheirando à fumaça! Eu quero passar os dias ouvindo O Grande Encontro e Flávio José! Eu quero viajar pra Aracaju pra casa da minha tia e encontrar meu amigão de anos lá para fingir, de novo, que danço forró com ele! Eu quero estar com minha "primaiada" falando besteira e contando piada! Eu quero pendurar bandeirolas na minha casa!

Ai, gente, deu vontade de estar lá agora. Só isso.

Vida que segue...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Nunca mais um mico? Nem um miquinho?

Te contar, viu? Quando a gente acha que já passou por tudo...

Marido e eu estávamos num restaurante, do lado de fora, curtindo o clima, quando aparece um sem-teto vendendo jornal da entidade que os apóia. Marido tem uma tática, quando ele não quer atender pedintes (é, meu povo, tem aqui também), ele, simplesmente começa a falar em português para que a pessoa não tenha possibilidade de contato.

Aí eu, que também estava falando em português com ele no momento, lembrei de um caso em que eu dei dinheiro para um deles que vendia jornal e ele, o sem-teto, ficou muito feliz com isso. Era uma forma de incentivar marido, né?

Daí eu digo:
- O cara parecia com esse daí, só que mais arrumado e bem cuidado.

Na hora, chega o cara perto da gente e marido diz em português:
- Não tenho, não.

Ele responde:
- Não tem, não?

Gente, vocês leram? ELE RES-PON-DE! Em português!!!

E completa, olhando pra mim:
- Morei dez anos em Portugal. - e sai de perto.

Gente! Gente! Gen-te!

Se esconder embaixo da mesa serve?

terça-feira, 21 de junho de 2011

A vida acontece no verão

Tudo acontece no verão na Alemanha. Os casamentos, as festas, os churrascos, os passeios, as viagens e as férias. Tudo que é bom, acontece no verão.Quem faz isso no inverno (oi, meu aniversário é em novembro, #beijosmeliga) é muito corajoso.

Por isso, nossa agenda fica lotadíssima de compromissos. (Ui, me senti a Paris Hilton agora!) Finais de semana concorridos e a gente pensando no que fazer, né?

Eu acho tudo muito legal, interessante. A cidade fica mais viva. Aliás, a cidade tem uma cara para cada estação. Fim.

Momento confissão: O título e a introdução mesmo foram só para falar de um episódio. Porque o blog é meu e no fundo é só pra falar de mim mesmo, ora bolinhas.

Sexta-feira passada fomos para uma festa de um colega de marido. A casa dele é lá onde Judas tomou a topada antes de perder as botas, quase já na zona rural de Berlin. Um lugar bucólico, digamos assim.

Era noite, temperatura amena e todo mundo de casaquinho. Menos eu. Sei lá, devia estar uns 20 graus. E o dono da casa me pergunta assim que eu cheguei:
- Não está com frio? Se tiver, posso pegar um casaco em casa pra você.
- Não, obrigada! Estou bem.

Na hora de ir embora, a mesma coisa:
- Não vai congelar, hein?

Gente, eu juro, não estava com frio. Eu não sou friorenta. Mas, o povo insiste em pensar que estou morrendo de frio. Aí vem com aquela:
- Você é brasileira, não está acostumada. (Mais um clichê)

Eu até agradeço a atenção e a preocupação. Mas, fica parecendo que no Brasil é verão o ano todo, sol a pino e você nunca sentiu temperaturas abaixo de 25 graus. Hallo!? Nunca nem nevou no sul do Brasil, né?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dos clichês

No mundo todo existem os clichês. Não dá pra fugir.

Quando eu era mais nova e não tinha muita ideia de como o mundo era, poderia ou devia ser (envelheci e continuo sem ideia nenhuma), a minha visão dos alemães era aquela que mostram em filmes e desenhos: mulheres masculinizadas, com peitões, tranças, aquela roupa típica e 400 canecas de cerveja na mão; homens com suspensórios, barrigudos, bigode, bochechas vermelhas e uma caneca gigante de cerveja na mão. Em outras palavras, bávaros (os do clichê, claro).

Na Alemanha não seria diferente. Não mesmo.

Teve carnaval das culturas, né? Né. Quando cheguei na empresa, algumas pessoas me perguntaram se eu estive por lá. Quando eu respondia que fui, mas fiquei apenas uns 20 minutos (a mais pura verdade), porque estava muito cheio e eu não sou muito fã de muvuca, o pessoal me olhava com aquela cara de "hein?".

Um deles me disse: "Então você não é brasileira!" (Pausa: Por coincidência, a cunhada dele também é brasileira. Fim da pausa)

Como eu já estou meio que acostumada com esse tipo de coisa, olhei pra ele com essa cara:

E respondi num tom irônico:
- Não sou fã de carnaval, não sei sambar, não gosto do calor e estou morando na Alemanha. E agora?

Saí e deixei a pergunta no ar. Melhor não dar muito pano pra manga, né?

sábado, 18 de junho de 2011

Fácil não é (ou senta que lá vem história)

Ninguém disse que seria. E eu já cheguei aqui sabendo. É só ler o subtítulo do blog. ;)

Quando eu fiz dois meses de estágio, conversei de novo com meu chefe, queria aproveitar a oportunidade pra falar sobre perspectivas. Abre parêntesis: eu acertei seis meses de estágio com meu chefe, mas só recebi um contrato de três meses. Então, em um mês teríamos que falar de renovação de contrato. Fecha parêntesis.

Eu aproveitei também para perguntar a opinião dele sobre mim, se ele gostaria que eu continuasse na empresa. Olha, te dizer, viu? Tem que ter coragem pra perguntar essas coisas... sabe se lá o que se vai escutar, né?

Como eu já falei aqui em vários textos, tenho sido uma pessoa de sorte. Não seria diferente com meu chefe. O cara é um talento em relação interpessoal, além de ter ótimo humor. Ele sabe "conversar" com as pessoas. Ele sabe conversar comigo. Por exemplo, ele não precisa me dizer quando eu errei o alemão ou quando eu não consegui me expressar direito, o jeito como ele reage me mostra isso. Eu não me sinto intimidada, nem ele precisa ficar o tempo todo me corrigindo.

Ele falou muitas coisas legais sobre mim. Muitas mesmo. Eu disse que me sentia agradecida por ele ser paciente, por ele ter me contratado apesar da minha deficiência em alemão. Mas, também reconheci que criei meu caminho na empresa e queria uma oportunidade para continuar traçando-o.

O que ele faz? Entende o recado, né? Ele me disse que marcaria uma conversa com o presidente, para que eu pudesse ter uma chance de dizer o que penso sobre a empresa e quais seriam meus planos daqui pra frente. Foi nesse contexto que essa conversa aconteceu. Eu fiquei mais de TRÊS horas com eles dois conversando. No meio da conversa, o poderoso chefão me disse que essa era a primeira vez que ele conversava assim com um estagiário, que meu chefe o tinha incentivado e ele não estava arrependido. Ainda disse mais, disse que faria questão que eu ficasse na empresa, que ele precisava de uma pessoa como eu e todo o blábláblá correspondente.

Eu voltei pra casa nas nuvens. E desci nos dias seguintes.

Porque, junto com essa conversa, veio a pressão e a expectativa, dos dois lados. Do meu, que precisava provar que eles não estavam errados e do deles, que queriam que eu apresentasse resultados. O presidente falou com todas as letras que eu tenho que falar mais. Ele se referia ao fato de eu ficar calada nas reuniões. (Realmente, é uma dificuldade que eu tenho, ainda não consigo participar de conversas paralelas, sabem como é?)

Foram três longas semanas. Eu não sabia se seria contratada. Eles não sabiam se eu ia "reagir". Eu sofri.

Tive várias conversas com meu chefe nesse intervalo. No fim, quando ele me fez a proposta final: de não me contratar agora, porque além de o acerto ter sido de seis meses de estágio, ainda não aprendi a me expressar direito (quando falo em "me expressar direito" não é saber ou não falar alemão, é usar as palavras certas para mandar a mensagem certa, pegaram?) e ele não conseguiu convercer a diretoria que me contratasse (é uma S.A., o presidente não decide sozinho), eu estava um caco. Em pedacinhos. E ele, mais uma vez, ressaltou o que o poderoso chefão disse: que eu preciso ser mais agressiva, me "vender" mais para os outros, mostrar o que eu sei etc etc.

Eu não tenho problemas em ouvir críticas, principalmente, as construtivas, aquelas que eu sei que são para o meu bem. Eu mesma pergunto, né? Porém, ouvir naquelas circunstâncias me deixou mal. Eu tinha esperanças de poder vir aqui contar pra vocês que tinha conseguido o contrato de trabalho. Eu tinha esperanças que eu tinha abusado da sorte e conseguido mais essa meta. E aceitar isso, mesmo sabendo que seria difícil, foi complicado. Foi complicado admitir que a culpa foi minha, por não ter mostrado melhor e mais o meu potencial para outras pessoas que são importantes nos processos de decisão da empresa, por entrar muda e sair calada de algumas reuniões, de não ter um alemão melhor...

Meu chefe estava tão tenso quanto eu. Eu só percebi quando ele viu a renovação do contrato de estágio assinado. Ele veio na minha direção correndo e gritando "Você assinou, você assinou!" e me deu um abraço. Eu ouvi o peso caindo de suas costas. De certa forma, me senti melhor depois disso.

Eu assinei o contrato de renovação porque foi o combinado, porque, além do fato de eu não ter virado "funcionária" agora, tudo continua o mesmo, e há as promessas de apoio contínuo do meu chefe e do poderoso chefão, o que significa lobby constante para os três meses que estão (re)começando.

A cobrança acabou? Só começou. E aumentou. Eu tenho que aprender a abrir a boca nas reuniões. Agora com mais um agravante: vai entrar um consultor fixo na empresa a partir de julho. Ele é australiano. Não fala alemão. E quer (além de precisar) conversar comigo. Meu chefe já me avisou: tire seu inglês de onde você o esqueceu e converse com ele! (Eu não deixei ele perceber, mas minhas pernas tremeram nessa hora e estou aqui pensando como destravar o inglês enquanto ainda não sou fluente em alemão.).

Só sei que entrei com a cara e a coragem em dois projetos. Agora, ou eu falo, ou eu falo. rsrs

Fácil não é, né? A gente é que tem que dar nosso jeito.

P.S. Meu astral já melhorou.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Chocolate e leite

A pessoa cresce sendo chamada de branquela, azeda, amarela, galega e todos os nomes derivados de sua cor de pele (vou fingir que não tenho avó índia e bisavô negro porque o Brasil é uma salada, e na dança do "azinho" e "azão", herdei o "azinho"... - aulas de biologia, gente! Mas, a facilidade em bronzear bem que eu podia ter herdado, né? Porque eu não bronzeio, fico camarão, hunf!).

Por arte do destino, vem parar em terras germânicas, com muitas pessoas acostumadas com todos os adjetivos lá em cima.

Só que a pessoa aqui nunca na vida imaginaria passar pelo que passou dias atrás. Colega da empresa:
- Ai, estou branca demais. Preciso de um solzinho pra ficar com a sua cor.

Sua cor, de quem? Pausa. Pensaram? Pois é.

A moça queria tomar um sol pra ficar com a cor da pessoa que vos escreve. Oi?

A pessoa aqui olhou pra colega com cara de interrogação. Só pode ser brincadeira, sarro, gozação, né? Ou todo mundo sempre mentiu pra ela.

Pra fechar com chave de ouro, ela encosta o braço dela no meu e diz: aí ó, leite (apontando pro dela, lógico) e chocolate (apontando pro meu). =O
Prazer, chocolate.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Verão em Berlin

Olha, verão em Berlin é tudo lindo, tudo de bom, tudo quase perfeito.

Tem sol até 22h.
Está todo mundo de alto astral.
A beleza dos homens e mulheres aparecem.(eu ia escrever só dos homens, mas lembrei que sou uma mulher casada. =P)
A cidade está cheia de velhinhos turistas.
Os passarinhos cantam.
Os coelhinhos saem pra passear nos parques.
E você até se empolga pra fazer umas caminhadas de vez em quando.

Mas, vamos combinar que o hábito que alguns alemães tem (poucos, graças a Deus!) de não tomar banho diarimente, bem como o de não trocar de roupa com certa frequência, não ajuda muito para que o verão seja perfeito. Por isso, o quase lá de cima.

Que tal deixar o hábito só para o inverno? Já pensaram nisso? Tem até desculpa de dizer que está frio, que não quer congelar enquanto a água esquenta, proteger a pele do ressecamento, blá, blá, blá...

Meu povo, que é isso, pelamordeminhasantadobanhodiárioedoperfumefrancês? O que é que custa tomar um banho pra refrescar o dia e não prejudicar o meu nariz logo de manhã, hein? Hein? O que custa?

É a escola de samba "Unidos na Suvaqueira" aí, minha gente!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sai desse corpo que ele não te pertence!

Engordei.

Tá, ok. Eu não estou goooorrrda. Mas, estou acima do peso. Nunca, na história desse país (qual?), eu pesei 56,5kg (Ops, não era pra contar!). Meu peso normal, assim, normal mesmo, é 54kg, escorregando pra 55kg em época de festas e muitos jantares/churrascos.

Que eu saiba, não tem festa nenhuma rolando pra eu estar pesando isso TUDO! Tudo sim. Arrisque dizer pra uma mulher que está se achando gorda, que ela não está. Gordura essa toda concentrada na área da cintura. Qual o seu argumento agora? Ai, ai.

A verdade é que eu passei a comer mais depois que comecei o estágio. Tudo é culpa dele agora, perceberam? Chego à noite em casa esfomeada e marido preparando o jantar. Ele cozinha bem. Junta a fome com a vontade de comer e faço aquele pratão! Faço não, fazia.

Porque o alerta acendeu na minha balança. Maldito dia em que decidi comprar uma balança. Céus!

Cortei doces à noite também. Quer dizer, tento. De vez em quando eles me olham muito carentes, sabem?

Aí estou aqui na luta pra perder, pelo menos, 1,5kg e eu ficar mais tranquila e parar de enxergar celulite em todo canto do meu corpo. Porque, não sei qual o motivo, mulher, nessas épocas de crise, fica muito mais crítica consigo mesma do que de costume, né?

Na dúvida, estou evitando espelhos.

P.S. TPM. Percebam.

domingo, 12 de junho de 2011

Carnaval das Culturas

Todo ano, acontece aqui em Berlin o carnaval das Culturas (Karneval der Kulturen), num bairro "alternativo" da cidade, Kreuzberg. É sempre no verão. Esse ano está acontecendo nesse final de semana. Começou na sexta e termina com um desfile hoje. (A Bela Isa - obrigada! - me corrigiu nos comentários. A festa acaba hoje, dia 13, feriado aqui. Então, quem ainda quer curtir, pode curtir. No blog dela, tem suas impressões. Passem lá!)

É muito interessante, pois é a representação da cultura do "povo". Sim, é uma festa organizada pelos moradores do bairro. Estrangeiros e alemães se empolgam nesses dias e demonstram como Berlin é diversificada e interessante.

Eu acho o carnaval da cultura uma mistura entre o carnaval de Salvador, porque em todo canto, esquina e rua tem música de todos os tipos, gostos e gêneros, com o do Rio de Janeiro, porque eles fazem desfiles de carros alegóricos. Os carros são artesanalmente preparados para representar as diversas culturas da e na cidade. Tailandeses, angolanos, japoneses, estudantes, médicos, brasileiros, espanhóis, mulheres, gays, crianças... Uma mistura muito interessante.

Também tem as barraquinhas de comidas e bebidas de diferentes partes do mundo. Arrisco a dizer que a caipirinha ganha entre as bebidas mais consumidas nesses dias.

Esse ano ainda não apareci por lá. Acredito que ainda vamos hoje ver o desfile. Se marido terminar de passar as notas dos 400 alunos que ele tem...(fim de ano letivo pra professor nunca é moleza. rs)

Ano passado eu fui, com marido, a Li e o Gu (oi, gente!). E deixo aqui algumas fotos do ano passado.
Olha a muvuca, minha gente!

A Bahia por aqui!

E as baianas....

Isso aí é um músico de  Maracatu (Pernambuco)

Fora dos desfiles também tem festa!

Percussão...

Que tal Jazz?

Ou as tailandesas?
Depois de rever as fotos, deu vontade de ir pra lá A-GO-RA!

É ou não é legal morar em Berlin?

Mais informações aqui.

sábado, 11 de junho de 2011

A importância da TV pra mim

Fiquei as duas úlitmas semanas sem ver TV. Ou era minha tia em casa, ou a viagem que fizemos no feriado ou um livro que queria terminar de ler.

Aí essa semana voltei a assistir alguns programas que passam à noite. O que eu percebi? Que no primeiro programa eu não entendi nada do que o povo falava. NADA! Eu ficava voando nos diálogos, só entendia uma palavra e outra e eu achando que era o som da TV que estava baixo. Que nada! Era problema meu mesmo.

Daí a ficha caiu. Ficar sem assistir TV é como ficar sem praticar alemão. Porque eu estou praticando audição e, em alguns casos, leitura por causa das legendas. Tá, mas aí vocês pensam: mas, você já não passa o dia ouvindo, lendo e falando alemão no estágio? É. Sim. Verdade. Vocês tem toda a razão.

Porém, já pensaram que é mais fácil entender quem você ouve todo dia, o tempo todo?

Eu preciso me acostumar ao estranho, ao tom, à dicções diferentes. Senão, povo me para na rua e vou ficar só no "Oi?", "Quê?", fazendo cara de paisagem.

Mais uma pendência na minha semana...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Da relatividade do tempo

Depois que eu comecei a estagiar, minha vida deu uma desorganizada básica. E com a primavera/verão, sol se pondo às 10h da "noite", sempre tenho a impressão que ainda tenho dia pra aproveitar e vou empurrando com a barriga as coisas que tenho pra fazer.

Desculpas esfarrapadas, né? Não vivo sem.

Chego em casa às 18h, um pouquinho a mais um pouquinho a menos (tá, bastava eu escrever entre 18h e 18h15, mas né, tem que se alongar!). Aí vou providenciar algo pra comer. Mentira! Marido prepara a janta pra gente. Janto. E...

Venho pra net. Leio os emails do dia e visito alguns blogs. Alguns só. Porque se fosse pra correr todas as atualizações das listas ali do lado, estava mesmo era ferrada. Desculpa aí, meu povo.

Aí vou resolver outras coisas ou simplesmente sento em frente a TV sem vontade de fazer PN. E o dia lá, passando. Quando vejo, ops, 23h! Hora de dormir.

No balanço do que sobra do meu dia, o que eu fiz? Quase nada. Uma lista de pendências pra resolver e a consciência pesada.

Está na hora de dar um jeito, hein? Ai ai.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um fato histórico e um doce

Ich bin ein Berliner!

Essa frase, dita pelo presidente dos EUA, John F. Kennedy, quando visitava Berlin em 1963, fez história. Num discurso empolgado em inglês, para dar ênfase, falou esta frase em alemão.

A frase fez história por dois motivos. O primeiro porque ele queria dizer, no seu discurso, que se sentia como um berlinense, já que os EUA estavam ajudando a Alemanha Ocidental a se reerguer depois da Segunda Guerra Mundial. E o segundo motivo foi, simplesmente, pelo significado.

Sim, significado. Com a frase "Ich bin ein Berliner", que literalmente quer dizer "Eu sou um berlinense", ele quis dizer, na tradução local: "Eu sou um doce". Pois é. Talvez Marilyn Monroe dissesse isso sobre ele, mas nao o presidente dos EUA, né? Ele pagou esse mico...

Se ele quisesse dizer "Eu sou berlinense", ele deveria dizer "Ich bin Berliner", como se diz "Eu sou brasileiro". Pescaram?

E por que um doce?

Porque na Alemanha existe um doce chamado Berliner. Na verdade, ele não se chama Berliner, mas porque ele é de Berlin, moradores de outras regiões da Alemanha o chamam assim. O nome real é Pfannkuchen.
Oi, eu sou um Berliner. ;)

Eu gosto desse doce, porque lembra o sonho do Brasil, aquele pão doce com recheio de goiabada e coberto de acúcar. Em Berlin, o recheio é de geléia de cereja ou morango ou framboesa ou... tudo, menos goiabada. Humpf!

Gente, deu fome! Vou parar o texto aqui e ir comer um ali. Tschüss!

Texto publicado originalmente no Brasil com Z.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sotaques alemães

No dia que eu fui buscar minha tia no aeroporto, um grupo de rapazes passou por mim. É verão e eu nunca vi tanto turista junto como tenho visto aqui em Berlin, meuzézus!

Eles falavam entre si e uma coisa me chamou a atenção. Foi uma familiaridade, algo conhecido... Eles falavam alemão. Não, não era por ter reconhecido o idioma que senti essa familiaridade. Foi o sotaque, meu povo.

Eram austríacos, segundo marido. Eu os ouvi conversando e fiquei me perguntando de onde eu já conhecia esse tom, esse jeito de falar, essa "ginga"? Eu nunca tinha ouvido austríaco tão de perto.

Aí a ficha caiu. Nossa! Não pode ser!!! Aliás, será!?

Bom, eu ainda acho que não sou doida. Mas, na dúvida, né, nunca se sabe... rs

Então, eu pesquisei na net um vídeo com o sotaque austríaco e achei um cara muito bom! O vídeo é em inglês e vocês poderão ouvir (e entender) o sotaque como eu escutei lá no aeroporto.



Dica: colquem um "tri" ou um "daí" no final de cada frase. Atenção a partir do momento 0:38.

E aí, sou doida?

Para não dizer que eu sou malvada, vejam também o de Berlin e imaginem o que eu tenho que aguentar por aqui. rsrsrs



Fantástico! ;)

P.S. Espero não ter que explicar que são caricaturas, né, meu povo? Assim como nem todo austríaco fala assim, nem todo berlinense é assim. Até porque, tem muito mais "estrangeiro" (pessoas que nasceram em outras cidades da Alemanha) do que nativos por aqui hoje em dia. ;)

domingo, 5 de junho de 2011

Não deu certo...

Não deu certo.
O casamento de 10 anos acabou.
O namoro de 4 anos foi para as cucuias.
Perdeu o emprego de 5 anos.
Voltou pra casa dos pais depois de 3 anos morando sozinho.
Voltou para o Brasil depois de 7 anos na Alemanha.
Não deu certo.

Oi? Cuma? Peraí.

O casamento durou 10 anos. O namoro, 4. O emprego, 5... e não deu certo? O que você estava fazendo durante esse tempo todo? Brincando de casinha? Escondido embaixo da mesa?

Despedi-me de uma colega brasileira que voltou para o Brasil hoje. No email (precisou que a despedida fosse virtual), escrevi que, sim, deu certo. Um ano de Alemanha não se joga fora. Um ano de experiência boas e não tão boas assim (ruim é uma palavra que não deveria existir. A neurolinguística explica) não se esquece.

Deu certo. Até quando e aonde tinha que dar. Uma hora o vento muda de direção e o barco segue outro rumo. Aí você se vê numa ilha deserta com grandes possibilidades de exploração. O plano não deu certo. A vida deu. Aquele momento deu. Aqueles anos compartilhados num casamento deram.

O que não deu certo foi o plano para os anos e momentos seguintes. Não daria certo, talvez. Mas, até ali, deu. E lembre-se, você foi feliz em alguns momentos desses anos, desses caminhos, dessas experiências.

Nada é eterno. Em algum momento há uma ruptura.

Mas, até as rachaduras traçam caminhos. Trace o seu. O novo. E a vida dará certo. Dará certo a partir do ponto que não daria. Não daria ali, naquelas circunstâncias. Portanto, pegue sua bagagem, tudo que se construiu EM VOCÊ nesses anos que se passaram e continue dando certo. Contudo, numa nova direção.

Só não esqueça que deu certo. Até ali. Porque nada é em vão. Nem você.

P.S. E vocês pensando que estava falando de mim, hein? Peguei vocês! ;)

Para a mocinha que voltou: eu sei que você vai ler! Beijos e muita sorte nesse novo recomeçar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mais e mais mudanças

Eu estou passando por mudanças. Aliás, passamos todos por momentos de mudanças o tempo todo. Seja mais um dia de vida, mais um cabelo branco (ou vários, no meu caso), um estilo novo ou uma nova forma de pensar.

Desde que voltei a trabalhar, sair de casa, criar uma rotina, ver gente, me desafiar e cumprir tarefas, senti que muita coisa mudou em mim.

Aquela sensação de que sou analfabeta (não leio, não escrevo e não me comunico em terras germânicas) passou. Acabou! Sumiu! Foi para o brejo! Porque agora eu sei que eu posso fazer tudo isso aí entre parênteses. As pessoas me entendem. Claro, perfeição é coisa que passou longe aqui. Um dia ainda quero ter a variedade de vocabulário que tem a Sandra ou a pronúncia que tem a Jane. Porque, né? Confessar que meu sotaque nordestino anasalado não ajuda muito na hora de falar Grün (verde) ou Fünf (cinco) e que nomes de ruas e pessoas ainda são um obstáculo. Herr Quem? Notem, então, que são coisas bem comuns.

Mas, estou levando. E estou conseguindo. Coisas que eu achava que não existiam mais em mim, estavam, na verdade, só adormecidas. Caramba! Como eu sou criativa e rápida! E como eu gosto de trabalhar.

Na minha fase de mudanças, sempre inventei coisas para representá-las. Mulheres adoram isso. Ou renovam o guarda-roupa, a casa, ou cortam o cabelo. Eu já cortei o cabelo. E renovei a casa com uma parede verde e uma rede. =D

Contudo, são tantas e tantas mudanças que é preciso maior representação do que isso. E o meu espelho ou o meu baú de coisas legais que andam acontecendo é o blog. Aí, estou eu aqui pensando em como marcar a Eve versão Deutschland 2.0 através do blog e pensei num novo visual.

Só que eu até posso ser criativa, mas mexer com design gráfico ou web é uma coisa que não está, definitivamente, no meu currículo.

Marido até poderia fazer. Mas, aí, só se eu quisesse que ficasse pronto em 2012. Eu vou aqui, descaradamente, deixar um pedido de Help! Quem quiser fazer parte dessa "mudança" comigo, avisa aí, tá? rsrsrs

E conitnuo mudando.

P.S. Se eu demorar de aparecer, é porque fui ali... =P