sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Eu amo Berlin!

Eu amo Berlin, mas não porque é a capital da Alemanha, ou mesmo, uma cidade europeia. Eu amo Berlin, porque É Berlin. Deu pra entender?

Há uma única razão: tem tudo para todos os gostos.

Agora eu entendo os paulistas quando, aqui na Alemanha, dizem que sentem falta de São Paulo. Eu pergunto porque e eles respondem sem pensar: "ah, porque lá tem tudo."

Eu conheço São Paulo, mas não o seu "tudo". Mas, eu conheço o tudo de Berlin agora. Quer dizer, quase, né? Pra eu conhecer a cidade toda, ainda preciso de uns bons anos por aqui.

Os primeiros dois anos foi para adaptação, "aclimatização" (tá certo isso, Arnaldo?). Mais de dois anos se passaram e eu acho que estou na fase da descoberta. Já não me deslumbro, porém continuo fascinada com as fascetas facetas (hihihihi) dessa cidade. Deixo pra trás o lado recém-chegada e vivo o lado moradora, aquela que sai pra viver a cidade, seja pra sair pra trabalhar, pra fazer compras ou encontrar amigos. Cada pedaço novo que encontro, uma descoberta gratificante.

Ela é linda e feia. É grande e provinciana. É rock e punk. É tecno e brega. É arte e rebeldia. É pobre e rica. É alemã e estrangeira. É europeia e asiática. É luxo e simplicidade. É barulho e tranquilidade. É tudo e nada.

Eu amo Berlin, porque ela tem tudo pra oferecer. Até praia. Se você fechar os olhos, pisar na areia e não cobrar que a água seja salgada, é praia. :)

São mais de 150 eventos por final de semana para todos os gostos. São 160 museus. Mais de 2,5 mil parques e áreas verdes pro povo tomar sol, fazer churrasco e/ou ficar pelado. 3,5 milhões de habitantes e não tem muvuca. Cada bairro, um estilo, uma história. Monumentos, memoriais, história, muita história.

E o povo? Bom, o povo também é peculiar. Bem peculiar. É um povo direto, sem rodeios, que vive sua vida do jeito que bem lhe entende, sem se preocupar se está na fila do supermercado de pijama ou se vai trabalhar com um moicano verde. E não está nem aí se você não gostou.

Berlin é isso. É a cidade das experiências, das tendências, dos alternativos, dos desempregados, dos estrangeiros, das universidades, das empresas de internet. É o lugar que escolhi pra viver.

Berlin também é a cidade do muro, da guerra, da reconstrução. Se há uma cidade com marcas, é essa aqui. Por isso, por essas marcas, ela é tão interessante.

Tem alguma coisa que eu não goste em Berlin? Claro. Você gosta de tudo na pessoa que você que ama?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nem sempre ser a preferida é bom...

Aí que fomos no aniversário do sobrinho de marido. Ele alugou um pequeno espaço e fez uma festa para amigos e família. Coisa simples, mas bem íntima.

Festas alemãs são diferentes, as pessoas não se comportam como no Brasil e eu me sinto estranha. Mesmo tendo com quem conversar, afinal, estava em família.

Contudo, porém, todavia, nao era sobre isso que eu queria falar.

Em certo ponto da festa, sobrinho de marido, que já estava pra lá de Bagdá (leiam: bêbado), queria pegar uma saideira e eu me disponibilizei para tal feito (uia, como falei chique!).

Voltando com a bebida, entrego pra ele, que me abraça e me diz em tom de brincadeira:

- Ah, só por isso, você é minha tia preferida agora.

Minha reação foi tão espontânea quanto:

- Ah não! Não me chame de tia, não. Você me envelheceu uns 20 anos.
- Hahahahaha

O detalhe que não foi escrito: era sua festa de aniversário de QUARENTA anos.

Prefiro ser chamada pelo nome. ;)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Conto 3 - Querido diário


Salvador, 22 de maio de 2006.

Hoje, como há muito tempo não faço, olhei-me em um espelho e me vi inteira. Estava decorando a loja para o Dia dos Namorados e, enquanto colocava alguns corações de papel no espelho do provador, olhei para ele.

Na hora fiquei gelada. Quem era aquela mulher? De quem era aquele olhar?

Tive vontade de sair correndo. Quase gritei.
Sufoquei o grito e evitei que minhas pernas obedecessem meu primeiro impulso.

Por alguns instantes, quis sumir. Aí, lembrei das crianças.

Aquela mulher que vi no espelho não parecia ter acabado de fazer 38 anos. Nem a maquiagem conseguia disfarçar as olheiras. A roupa já não conseguia esconder os quilos extras que teimavam em aparecer e eu não conseguia fazer com que desaparecessem.

Meu corpo não estava contra a gravidade e, sim, a favor dela. Meu cabelo sem brilho e forma, teimava em não ficar bonito, mesmo com a chapinha que eu tinha comprado só para isso. Deixei de comprar minhas vitaminas aquele mês, para poder comprar essa maldita chapinha e, pelo visto, joguei meu dinheiro fora. Está um bagaço.

Que vida é essa? Estou tão cansada, tão desanimada.

As crianças estão crescendo. A Laurinha já está precisando de sutiã. A Joana morre de saudades de mim, tadinha, tão nova e tão carente. O Davi nem lembra que tem mãe quando está jogando bola com os coleguinhas, mas é só bater a fome que corre para os meus braços: “Mamãe, tô com fome!”

O traste do Francisco atrasou a pensão esse mês. Parece que ele faz de pirraça. Não pude pagar a faxina que eu tanto queria fazer no apartamento e os meninos ficaram sem a pizza do final de semana. Falta pagar a conta de energia e o condomínio.

Preciso fazer as compras da quinzena, ir à farmácia comprar os remédios do meu pai e levar minha mãe para receber a aposentadoria dela.

E ainda tem as notas do boletim da Laura. Não gostei nadinha dela ter tirado tanta nota vermelha esse bimestre. O que ela anda fazendo que não estuda?

Ah! Semana passada, encontrei uma ex-colega de faculdade. Poxa, quanto tempo! Ela está ótima, trabalha numa clínica de estética dando aula de Pilates. Muito chique. E eu aqui, ralando bucho no balcão da loja de dia e na pia à noite. Que tristeza.

Quanta coisa para fazer, quantas pessoas para atender, quanta responsabilidade. E ainda é segunda-feira.

Às vezes, eu só queria chorar. Apagar meus anos de casamento falido, a escolha errada que fiz, não ter que abandonar a faculdade, não ter me esquecido dos meus sonhos. Mas, aí me lembro dos meus filhos. Apesar do trabalho que me dão, são a minha maior alegria, a única recompensa dessa vida que eu levo. Hoje, não saberia viver sem eles.

Só que hoje, só hoje, queria me sentir bonita e viva novamente.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Muitas coisas (parte 02)

Mais um estágio teve um fim. Nove meses de contrato e muitas possibilidades. Aprendi. Errei. Levei bronca. Recebi elogios. Fiz amigos. Nove meses. Uma gestação.

Eu posso dizer: esse estágio foi um parto! Não pelo trabalho, pelos colegas ou pelo chefe, mas pelas circunstâncias em como consegui levar o contrato adiante, cumprir tarefas e prazos.

Eu teria chance de continuar lá? Teria. Estava satisfeita com tudo e eles, comigo. Mas, resolvi que o melhor mesmo é não colocar a carroça na frente dos bois e respeitar a minha saúde.

Estou fazendo uma pausa pra cuidar de mim, porque é necessário. Não, não foi fácil decidir isso.

O máximo é saber que, opa, quando eu quiser, posso entrar em contato com a empresa novamente e ver a possibilidade de voltar. Então, não é uma pausa inconsciente. Meus movimentos são friamente calculados. Rá!

Aí vocês perguntam: vai fazer o que nesse tempo? Voltei para o curso de alemão, C1. E, enquanto o corpo descansa, a cabeça não para. Alguns projetos ganharão vida.

Aguardem no local!

sábado, 18 de agosto de 2012

Muitas coisas (parte 01)

Uma amiga do Brasil me escreve pra me dizer que estou diferente. Que ela achou que a distância não pudesse separar as pessoas, que já fui mais presente, mas hoje... (assim, com reticências)

Bom, pela amiga que eu tenho, eu posso dizer só uma coisa: foi um ataque de pelanca, daqueles sem motivo algum.

Ou melhor: daqueles que você aponta um dedo pra pessoa e três estão virados pra si mesmo. (Com o dedão apontado pra cima, pra mostrar que "Deus está vendo!")

Eu sei que eu ando ausente. Só que eu tenho meus motivos. E ela sabe disse. As pessoas mais próximas todas sabem. Alguns de vocês também sabem e, Gott sei Dank, entendem.

Não ando comentando muito nos blogs amigos. Esse blog só está sendo atualizado porque acho importante manter a Eve acesa, viva. Não estou morrendo. Mas, oi?, já "visitei" hospital duas vezes esse ano. Quem é esperto (parece que essa amiga não), saca que tem/teve algo errado, né?

É óbvio que eu mudei. É óbvio que eu estou diferente.

E os três dedos? Pois é. Amiga sabe, ou eu pensava que sabia, o que ando passando. Jacaré me escreveu UM email pra me perguntar como estou? Nem ela. Agora, me pergunta quantos emails mandei pra ela? Mais do que ela, com certeza.

Aí, pessoa que mora lá em outro país (que pode ser Brasil também, EUA, Holanda ou Bahrain, por ex.), que nunca me viu na vida, que não sabe nem se eu sou real (oi?), me escreve quase todo dia/semana pra perguntar como estou ou só pra fazer uma piada pra me fazer sorrir.

Véi, na boa? Qual a medida da distância? Qual a medida da amizade?

Afff, pronto, de-sa-ba-fei!

P.S. A amiga em questão me conhece há, no mínimo, 15 anos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Um nadador? Um dançarino? Um pássaro? Um avião?


Se você acha que alemão não tem senso de humor, ou é frio demais pra pensar em flerte, essa propaganda te mostra que, opa, tem alguma coisa faltando nesse estereótipo aí.

Basicamente, duas médicas admiram o Raio-X das costas de um homem. Está tudo tão perfeito no Raio-X, que elas pensam que o cara é ou nadador ou dançarino e estão esperando alguém, digamos, moreno-alto-bonito-sensual. A surpresa é... Bom, vejam o vídeo.

Atenção para a cara de "fome" das médicas.




Ao final, a médica loira diz "Geiler Rücken", algo como "costas gostosas". Posso com isso?

sábado, 11 de agosto de 2012

Ali...

Um dos presentes de aniversário de marido foi um cupom de desconto para um jantar pra dias pessoas num restaurante africano (Gana). Aniversário foi em maio, cupom devidamente usado só esses dias. :)

Fomos. Lugar simples e agradável num bairro do outro lado da cidade.

Depois da entrada, recebemos um tipo de sopa/creme de cor abóbora. Garçon só falava inglês, aí a gente perguntou se era abóbora, ele disse que era inhame. Eu fiquei com cara de interrogaçao até provar.

Hummmm, delícia. Segunda colherada e, hummm delícia, esse creme tem uma pontinha de azeite de dendê, não é possível.

Mas umas colheradas e, opa, tem, sim, azeite aqui.

Aí, falo pra marido:
- Só está faltando o camarão pra virar um bobó.

Foi eu fechar a boca e abrí-la novamente pra a colherada seguinte, e:
- NossasenhoradasbaianasperdidasemBerlin!!! Isso é bobó de camarão!!!!!!

Nem preciso dizer que voltei pra casa realizada, né?

E quanto mais eu descubro, mas tenho certeza que a Bahia é logo ali.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Das antigas...

- Tenho consulta médica na terça.
- Qual médico?
- O lindo.
- Seu marido sabe que você acha isso do médico?
- É uma pergunta do século passado, não?
- Errrr...
- Não só sabe, como concorda comigo.

Diálogo entre DUAS mulheres. Tá que pariu, viu?
Na verdade, se a conversa não tivesse sido por telefone, ela teria visto a minha cara di-vi-na:
Nem falar dos laços sanguíneos de primeiro grau, porque, né, só piora.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Coisas imprevisíveis

Pra mim, pelo menos.

Depois de passar uma tarde maravilhosa, com duas amigas, no calor de 32 graus em Berlin, tomando suco de manga, comendo pão de queijo e passeando às margens de um rio (sem pessoas peladas, ufa!)*, volto pra casa e vejo que aquele céu não é mais o mesmo.

Os 32 graus permanecem. Mas, aquela nuvem escura que vem passando pela torre da Alexanderplatz, vindo em direção ao nosso apartamento significa uma tempestade de verão.

Até aí tudo bem.

Estávamos vendo as olimpíadas na TV, quando marido, que estava no escritório dele, passa como um furacão pela sala e sai do apartamento sem falar uma palavra e eu fique com cara de c* sem entender.

A chuva já havia chegado. Porém, faltava um detalhe: o barulho das gotas batendo na janela não era normal. Fui ver e pra minha surpresa não eram só gotas d´água. Eram também pedras de gelo. Popularmente conhecidas como granizo. Chuva de GRANIZO, meu povo!

Aí, o furacão que passou pela sala e ainda deixou a porta do apartamento aberta fez todo sentido. Ele tinha saído pra tirar o carro que estava estacionado na rua. Parabrisa quebrado? Não trabalhamos.

Depois, sou eu a doida. Ê tempinho, viu?

*morram de inveja! Rá!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A resposta certa

Estava lendo uma reportagem numa revista sobre um desfile de moda para deficientes realizado por um alemão em Moscou, falando um pouco também de como a cidade trata seus deficientes.

Enteada, que precisa de uma cadeira de rodas para se locomover, ficou interessada e eu li um trecho pra ela, que falava de um grupo de crianças autistas barradas ao tentar entrar num planetarium. A justificativa foi de que os outros não querem ter que olhar para eles. :O

Aí, ela fala:
- Eu também não gosto de ter que olhar para alguém com uma verruga na cara, mas nem por isso deixo de olhar ou conversar com ela.

PÁ!!! Na cara dos "normais".