quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Nível altíssimo

Pessoa raramente lembra dos sonhos que tem. Geralmente quando lembra, por ex., sonhar com uma prima que não vê há anos, é porque, dias depois, pessoa vai receber um sinal de fumaça dessa prima.

Claro que, então, pessoa tem que procurar significado de todos os sonhos que ela tem e é capaz de lembrar. O que não foi diferente essa noite.

Pessoa sonhou que estava num parlamento/congresso/ministério alemão e tinha muitos políticos. Muitos deles vinham falar com ela e diziam: "está lembrada da nossa reunião às 10h?". E pessoa totalmente perdida, sem lembrar que tinha marcado esses compromissos. Amnésia define.

O sonho já estava "absurdioso" demais, e aí vem um que não sei quem é e diz: "nós temos uma reunião às 14:10h, a Chanceler (sim, ela mesma) quer conversar com você. Passarei aqui pra te pegar com o helicóptero, porque o encontro é em Washington". What??? Pois é. Coerência define.

Aí pessoa vira uma pilha de nervos, porque não tem a mínima ideia do que será discutido na reunião e resolve ir fazer não sei o quê, não sei aonde e olha para os pés. A pessoa está rigorosamente vestida como manda o figurino do local: um terninho vinho lindo. Disso ela lembra. Mas, no pés.... Nos pés, um tênis colorido fajuto e sujo e uma meia roxa de lã. Hipster define.

Corre para o hotel para procurar um sapato que combinasse com o terninho. Vasculha o armário todo e só acha sapatilhas de números maiores que o dela. A maior bagunça. O tempo passando, a hora do encontro chegando e o helicóptero esperando. Ela tendo crises de ansiedade, até que acha uma sapatilha bege que cabe. Detalhe: a sapatilha que ela tem no mundo real. Bota no pé e vai com ela mesmo. Loucura define.

Saindo do hotel, descobre que, porque perdeu o horário, tem que pegar uma moto para chegar ao local da reunião. Tipo: é em Washington! Aí ela pensa: "eu devia estar com meu tênis agora!" WTF define.

E o que ela faz? Sobe na moto, bota o capacete e "se pica" para o encontro. Do resto, não lembra mais.

Agora a pergunta de um milhão de dólares: que p&%$a de metáfora contém o sonho? Que pessoa não nasceu pra isso? Terninhos, reuniões políticas, helicóptero... tudo é coisa demais pra cabecinha dela?

Vai entender a dinâmica das coisas, né? Eu, hein?

p.s. Em seis três semanas é eleição nesse país. Deve ter sido isso.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

É o que tem pra hoje



"The future is a small town, where we all gonna move to someday.
I saw the future. I did. And in it I was alive.
My God! I was alive."

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Diminuindo a cobrança ou Como ouvir "certo" o que as pessoas querem dizer

Eu já estava entrando naquela fase em que ficava meio desconfiada quando eu participava, invariavelmente, do seguinte diálogo:
- Mora aqui há quanto tempo?
- (Insira aqui qualquer tempo a partir de 3 anos...)
- Aprendeu alemão aqui ou já falava antes?
- Aprendi aqui.
- Poxa, parabéns, você fala alemão muito bem pra quem está aqui só a (vide primeira resposta).

Eu ficava pensando: ou o nível de exigência desse povo é muito baixo. Ou eles não esperam que um "estrangeiro" seja capaz de falar alemão bem. Ou as duas coisas juntas. Já tive muitas discussões com marido por conta disso, e ele achava que eu devia entender como elogio.

Acontece que eu não estou satisfeita com meu nível de alemão. Eu ainda tenho um sotaque muito forte e poderia usar melhor o vocabulário que eu conheço. Porque eu compreendo 99% do que um jornalista da ZDF fala, mas não sou capaz de falar como ele. E quem é, né? Não dá para se comparar com um nativo, ainda mais um que estudou para falar "bonito". Detalhes...

Eu já estava entrando no limite que divide a alegria em receber um elogio e o de me sentir "insultada" pelos mesmos motivos. Eu pensava: "ora bolinhas, eu já estou aqui há 3 anos e meio e esse povo acha meu alemão bom? Oi? Tem alguma coisa errada aí."

Foi depois de mais um diálogo desses (e acontece sempre assim) que eu percebi que, olha, é elogio sim. Ainda. Talvez, quando eu quebrar a barreira dos cinco anos, volte a pensar desse jeito. Mas, por agora, vou voltar a ouvir como elogio. Por quê?

Porque eu me dei conta que no primeiro ano eu não falava alemão. Eu aprendia. Eu precisei do segundo ano quase todo para destravar. Falava, mas ainda me prendia aos meus medos e escorregadas. Hoje, não tenho medo de falar errado. Vou lá e falo. Entro em discussões e ainda mando o povo calar a boca.

Então, se eu for colocar no papel a minha experiência com o aprendizado da língua (eu ainda aprendo), vou perceber que eu tenho 3 anos e meio de Alemanha, porém, não falo alemão há 3 anos e meio.

E, vou dizer, saiu um peso das minhas costas depois de constatar isso.

domingo, 18 de agosto de 2013

Os meus passos

Comecei o curso na quarta-feira, né? Turma legal. 7 mulheres e 1 homem. Mas, parece que no próximo módulo chegarão ainda alunos novos, então, pode mudar. Única "de marte" do grupo. Quanto a isso, sem problemas. Professor de uma parte do conteúdo é francês e não fala alemão melhor que eu. Rá!

No horário do almoço, íamos todos juntos para almoçar e conversávamos amenidades. Aí que uma colega me pergunta:

- Você dança?
- Não. Por que a pergunta?
- Porque a gente conhece os estereótipos dos países, mas é bom sempre perguntar pra se ter certeza, né?

Achei fofo, confesso.

- Ah sim, eu danço de vez em quando, mas se você quer saber se eu danço samba, respondo que não.
- Mas, você parece uma pessoa que dança bastante.
- Por quê?
- A forma com você anda. A sua postura é bonita.

Achei fofo, confesso.²

- Ah, sim, mas desde quando cheguei na Alemanha, observo isso. As mulheres brasileiras andam de forma mais sensual do que as alemães. A gente mexe mais o quadril pra andar.
- Mesmo? Que interessante.

Melhor que perguntar de cara: Você sabe sambar? E o carnaval? De quebra, ainda faz um eleogio gentil. Ponto pra coleguinha.

sábado, 10 de agosto de 2013

"Levanta-te e anda"

Pessoa foi com a família por parque.
Abre parêntesis: Pra quem não sabe, enteada é cadeirante. Fecha parêntesis.
Sentaram enteada na manta e ficaram todos juntos conversando e aproveitando a tarde fresca.

Em determinado momento, as costas da pessoa cansaram e ela se sentou na cadeira de rodas. Sentido-se super à vontade, ficou por lá até a hora de irem embora.

Aí pessoa resolve sair da cadeira para dar lugar à dona. Nessa hora, passa um cara perto e olha completamente espantado para a pessoa que vos escreve, obviamente. E ficou olhando embasbacado até sumir no caminho.

Eu bem acho que ele pensou ter presenciado um milagre: eu andei!

Mas né? Tive que decepcioná-lo. O milagre só ficou por aí mesmo. :)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sou dessas

- que acessa sites de compras e seleciona as roupas e acessórios que ela nunca vai comprar, porque não tem grana pra isso. Mas, fica se imaginando e esperando que um dia tenha.
- que vê a nova campanha da Marc O'Polo e suspira por todos os poros. Por que, né? O negócio dela é os "maduros".
- que quer soltar fogos porque as aulas em Berlin começaram hoje. O marido, que é professor, volta a trabalhar, e os enteados voltam pra escola. Por uma semana, ela terá, durante o dia, a casa só pra ela.
- que já pensou em mestrado, já fez uma Weiterbildung, e agora vai começar outra, mais longa, mais complexa e mais difícil. Mas, não está nem aí, porque o que ela quer mesmo é se sentir viva novamente. Começa dia 14 e espera ter histórias pra contar.
- que além de fazer tandem com dois alemães, ainda arrumou um britânico pra ver se perde a trava do inglês finalmente. E fica morrendo de inveja do quanto ele sabe sobre o Brasil, se perguntando aonde foram parar as aulas de história que teve na escola. Elas existiram mesmo?
- que fica programando viagens (Holanda, Bélgica...) na expectativa de arrumar um emprego que pague as passagens, porque estada ela já tem. Né? Né? Né?
- que fica olhando para o material de estudos para transferir a carteira de motorista (ela tem a brasileira) e bate a maior preguiça porque ela não vê sentido em ter carro na Alemanha, ainda mais em Berlin. Mas, marido quer e ela gostaria de fazer esse agrado pra dividirem os trechos em viagens.
- que nessa onda de calor, ao invés de sair de casa pra curtir, se tranca e não sai nem por reza. Porque, além do calor ser muito, ela não pode tomar sol. A vida, essa safadinha!
- que vai pro médico e mente, dizendo que não está sentindo dor e o médico olha pra cara dela e diz: eu sei que está doendo. E ri, porque só tem isso pra fazer mesmo.
- que está, aos poucos, taking her life back!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pensativa...

Outro dia, na estação do metrô (de novo...), tinha um senhor muito bêbado. Os bombeiros tentavam convencê-lo a ir com eles, mas ele não queria. Não entendi muito bem, mas, aparetemente, os bombeiros insistiram o quanto podiam e depois desistiram, o deixando lá. Não dá pra forçar a ajuda, né?

Eu não me senti à vontade ficando perto desse senhor, porque parecia que a qualquer momento ele ficaria de estômago vazio, se é que vocês entendem. Ao meu lado tinha um cara. Eu olhei pra ele e sorri. Eu não queria que ele pensasse que estava me afastando por conta dele, mas sim por conta do bêbado.

Só que o meu sorriso abriu uma porta de comunicação. Entramos no metrô e o cara sentou perto de mim, me procurava com o olhar. Eu me senti incomodada. Eu não percebia o que estava acontecendo. Desci na minha estação de casa e ele desceu também. Ele andou ao meu lado e falou comigo.

- English?
- A little bit. German also.
- I English, Italian and Arabic.
- Oh!

E segui. Ele seguiu ao meu lado.

Sai da estação. Acelerei o passo. Dobrei na esquina da minha casa e ele ficou lá parado, com ar de perdido.

Só quando estava abrindo a porta do prédio que entendi o que estava acontecendo. Ele precisava de ajuda. Pelas línguas que ele dizia falar, no mínimo, alguém que atravessou o mediterrâneo, ficou perdido na fronteira da Itália e veio parar num "campo" de asilados por aqui. E eu, com a minha incapacidade intelectual de mudar a língua do meu cérebro de forma automática, não fui capaz de entender o que ele queria, não fui capaz de perguntar: "Do you need any help?"

Eu ainda voltei, procurei e ele não estava mais lá. Por algumas horas, senti-me a pior pessoa do mundo.

Já faz mais de dois meses e eu continuo me sentindo assim. Espero mesmo que ele tenha encontrado alguém melhor no caminho dele.